sábado, 25 de fevereiro de 2012

AUGUSTO DOS ANJOS

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E FUJA DOS VERMES...


Bjs,

PRÉ-MODERNISMO / PROSA / LIMA BARRETO / TRISTE FIM DE POLICARPO QUARESMA

Análise da obra

Publicado inicialmente em folhetins do Jornal do Comércio entre agosto e outubro de 1911 e depois em livro em 1916, Triste Fim de Policarpo Quaresma, obra mais famosa de Lima Barreto, condensa em si muitas das características que consagraram seu autor como o melhor de seu tempo.

A obra focaliza fatos históricos e políticos ocorridos durante a fase de instalação da república, mais precisamente no governo de Floriano Peixoto (1891 - 1894). Seus ataques, sempre escachados, derramam-se para todos os lados significativos da sociedade que contempla, a Primeira República, ou seja, as primeiras décadas desse regime aqui no Brasil.

Assim, Lima Barreto encaixa-se no Pré-Modernismo (1902-22), pois, respeita códigos literários antigos (principalmente o Naturalismo, conforme anteriormente apontado), mas já apresenta uma linguagem nova, mais arejada em relação ao momento anterior.

O romance narrado em terceira pessoa, descreve a vida política do Brasil após a Proclamação da República, caricaturizando o nacionalismo ingênuo, fanatizante e xenófobo do Major Policarpo Quaresma, apavorado com a descaracterização da cultura e da sociedade brasileira, modelada em valores europeus.

Divertido e colorido no início, o livro se desdobra no sofrimento patético do major Quaresma, incompreendido e martirizado, convertido numa espécie de Dom Quixote nacional, otimista incurável, visionário, paladino da justiça, expressando na sua ingenuidade a doçura e o calor humano do homem do povo.

O romance anuncia no título o seu desfecho pouco alegre, apesar do enredo em que os efeitos cômicos estão aliados ao entusiasmo ingênuo do personagem central e ao seu inconformismo e obsessões. Quaresma é um tipo rico em manifestações inusitadas: seus requerimentos pedindo o tupi-guarani como língua oficial, seu jeito de receber chorando as visitas, suas pesquisas folclóricas; tudo procurando despertar o riso no leitor que, no final, presencia sua morte solitária e triste: “Com tal gente era melhor tê-lo deixado morrer só e heroicamente num ilhéu qualquer, mas levando para o túmulo inteiramente intacto o seu orgulho, a sua doçura, a sua personalidade moral, sem a mácula de um empenho, que diminuísse a injustiça de sua morte, que de algum modo fizesse crer aos algozes que eles tinham direito de matá-lo”. 

Outro personagem que merece especial atenção é Ricardo Coração dos Outros, o seresteiro do subúrbio, que enriquece a narrativa em que se mostra a paixão pela cidade, os bairros distantes, as serenatas e os violões compondo um cenário pitoresco do Rio de Janeiro da época.

Estrutura da obra

A obra divide-se em três partes. 

Primeira parte - Retrata o burocrata exemplar, patriota e nacionalista extremado, interessado pelas coisas do Brasil: a música, o folclore e o tupi-guarani. Esta parte está ligada à Cultura Brasileira, onde conhecemos a personagem e suas manias. Sabe tudo sobre a geografia do nosso país. Sua casa é repleta de livros que se refiram à nossa nação. O que come e bebe é tipicamente brasileiro. Até o seu jardim só possui plantas nativas. Chega a estudar violão – instrumento de má fama na época, pois era associado a malandros – com Ricardo Coração dos Outros, já que descobre que a modinha, estilo tipicamente brasileiro, era tocada com esse instrumento.

Duas são suas grandes ações. A primeira está em estudar o folclore do Brasil para incrementar uma festa de seu vizinho, General Albernaz com algum folguedo popular. Descobre então o Tangolomango, brincadeira que consistia na dança com dez crianças, até que um sujeito, com uma máscara, deveria pegar uma a uma sucessivamente. O problema é que Quaresma empolgou-se tanto com a brincadeira que terminou passando mal, por falta de ar, ou, como se dizia na época, acabou tendo um “tangolomango”. Por aí já se tem uma idéia da ironia do autor.

O clímax da falta de senso de ridículo do protagonista foi ter mandado à Câmara um requerimento, pedindo para que a língua oficial do Brasil deixasse de ser o Português, idioma emprestado e por isso incentivador de inúmeras  polêmicas entre nossos gramáticos (seu argumento, nesse aspecto, é o de que não podemos dominar um idioma que não é nosso e que, portanto, não respeita a nossa realidade. Idéias bastante interessantes, mas apenas isso, pois é ridículo imaginar que uma língua seja mudada por decreto). No seu lugar propõe o tupi.

Resultado: vira motivo de chacota até na Imprensa. Seus colegas de trabalham aumentam as constantes ironias que jogam sobre a ele. Um chega a dizer que Quaresma estava errado ao querer impor aos outros uma língua que nem ele próprio, autor do requerimento, dominava. Idéia inverídica, tanto que o protagonista, irado, não percebe que escreve um ofício em tupi. Quando o documento chega aos superiores, a conseqüência é nefasta: o protagonista é internado no hospício.

Segunda parte - Mostra o Major Quaresma desiludido com as incompreensões o que o faz se retirar para o campo onde se empenha na reforma da agricultura brasileira e no combate às saúvas. Nesta parte, dedicada à Agricultura Brasileira, vemos Quaresma refugiar-se num sítio que compra, em Curuzu, e tem por intenção provar que o solo brasileiro é o mais fértil do mundo. Dedica-se, portanto, a estudar tudo o que se refere a agricultura. Mais uma vez, distancia-se, em sua perfeição, da realidade. Torna-se defeituoso.

Terceira parte - Acentua-se a sátira política. Motivado pela Revolta da Armada, Quaresma apóia Floriano Peixoto e, aos poucos, vai identificando os interesses pessoais que movem as pessoas, desnudando o tiranete grotesco em que se convertera o "Marechal de Ferro". Quaresma larga seus projetos agrícolas ao saber que estava ocorrendo a Revolta da Armada, quando marinheiros se rebelaram contra o presidente Floriano Peixoto. Na filosofia do protagonista, sua pátria só seria grande quando a autoridade fosse respeitada. Em defesa desse ideal, volta para a Capital, para alistar-se nas tropas de defesa do regime.

O interessante é notar a alienação em que a população mergulha diante de um tema tão preocupante como uma revolta. Recuperada do susto dos constantes tiroteios, parte da população chega a ver tudo como um festival, havendo até quem colecionasse as balas perdidas.

Enfim, a revolta é sufocada. Quaresma é transferido para a Ilha das Cobras, onde trabalhará como carcereiro. É então que presencia uma cena que lhe é chocante. Um juiz aparece por lá e distribui (esse termo é o mais adequado mesmo) as condenações aleatoriamente, sem julgamento ou qualquer outro tipo de análise. Indignado, pois acreditava que sua pátria, para ser perfeita, tem de estar sustentada em fortes ideais de justiça, escreve uma carta para o presidente, pedindo a reparação de tal erro.

Infelizmente, o herói não foi interpretado adequadamente, o que revela uma certa miopia dos governantes. Por causa de tal pedido, é preso e condenado à morte, pois foi visto como uma traição. Há nesse ponto uma ironia, pois justo o único personagem que se preocupou com o seu país foi considerado traidor, enquanto outros, que se aproveitaram no conflito para conseguir vantagens políticas, como Armando Borges, Genelício e Bustamante, saíram-se vitoriosos.

No final, tal qual Dom Quixote, Quaresma acorda, recobra a razão. Percebe que a pátria, por que sempre lutara, era uma ilusão, nunca existira. Num momento pungente, tocante, descobre que passara toda a sua vida numa inutilidade.

Em Triste Fim de Policarpo Quaresma, na configuração dos elementos da narrativa, notamos a presença predominante da ironia e as impertinências contidas na figura central do romance, Quaresma, alegando que o tupi, por ser a língua nativa brasileira proporcionaria melhor adaptação ao nosso aparelho fonador. Além disso, segundo ele, os portugueses são os donos da língua e, para alterá-la teríamos de pedir licença a eles. 

O narrador é solidário com sua personagem pois não deixa de criticar os que zombam de Quaresma. No livro, encontramos ora um Quaresma, entusiasmado, apaixonado pelo Brasil, ora um Quaresma desiludido, amargo, diante da ingratidão do país para com seus bons objetivos. Nesse ponto, o que vemos é um personagem condenado à solidão, já que seus ideais batem de frente com os interesses políticos e com o capital estrangeiro.

Desse modo, temos o personagem central vivendo três momentos na obra: valorizando as coisas da terra – a história, a geografia, a literatura, o folclore; no sítio do sossego a frustrada busca de uma solução para o problema agrário, o que faz o romance se vestir de uma profunda atualidade; finalmente, o envolvimento na Revolta da Armada, o que acaba lhe custando a vida.

Enredo

O funcionário público Policarpo Quaresma, nacionalista e patriota extremado, é conhecido por todos como major Quaresma, no Arsenal de Guerra, onde exerce a função de subsecretário. Sem muitos amigos, vive isolado com sua irmã Dona Adelaide, mantendo os mesmos hábitos há trinta anos. Seu fanatismo patriótico se reflete nos autores nacionais de sua vasta biblioteca e no modo de ver o Brasil. Para ele, tudo do país é superior, chegando até mesmo a "amputar alguns quilômetros ao Nilo" apenas para destacar a grandiosidade do Amazonas. Por isso, em casa ou na repartição, é sempre incompreendido.

Esse patriotismo leva-o a valorizar o violão, instrumento marginalizado na época, visto como sinônimo de malandragem. Atribuindo-lhe valores nacionais, decide aprender a tocá-lo com o professor Ricardo Coração dos Outros. Em busca de modinhas do folclore brasileiro, para a festa do general Albernaz, seu vizinho, lê tudo sobre o assunto, descobrindo, com grande decepção, que um bom número de nossas tradições e canções vinha do estrangeiro. Sem desanimar, decide estudar algo tipicamente nacional: os costumes tupinambás. Alguns dias depois, o compadre, Vicente Coleoni, e a afilhada, Dona Olga, são recebidos no melhor estilo Tupinambá: com choros, berros e descabelamentos. Abandonando o violão, o major volta-se para o maracá e a inúbia, instrumentos indígenas tipicamente nacionais. 

Ainda nessa esteira nacionalista, propõe, em documento enviado ao Congresso Nacional, a substituição do português pelo tupi-guarani, a verdadeira língua do Brasil. Por isso, torna-se objeto de ridicularizarão, escárnio e ironia. Um ofício em tupi, enviado ao Ministro da Guerra, por engano, levá-o à suspensão e como suas manias sugerem um claro desvio comportamental, é aposentado por invalidez, depois de passar alguns meses no hospício.

Após recuperar-se da insanidade, Quaresma deixa a casa de saúde e compra o Sossego, um sítio no interior do Rio de Janeiro; está decidido a trabalhar na terra. Com Adelaide e o preto Anastácio, muda-se para o campo. A idéia de tirar da fértil terra brasileira seu sustento e felicidade anima-o. Adquire vários instrumentos e livros sobre agricultura e logo aprende a manejar a enxada. Orgulhoso da terra brasileira que, de tão boa, dispensa adubos, recebe a visita de Ricardo Coração dos Outros e da afilhada Olga, que não vê todo o progresso no campo, alardeado pelo padrinho. Nota, sim, muita pobreza e desânimo naquela gente simples. 

Depois de algum tempo, o projeto agrícola de Quaresma cai por terra, derrotado por três inimigos terríveis. Primeiro, o clientelismo hipócrita dos políticos. Como Policarpo não quis compactuar com uma fraude da política local, passa a ser multado indevidamente.O segundo, foi a deficiente estrutura agrária brasileira que lhe impede de vender uma boa safra, sem tomar prejuízo. O terceiro, foi a voracidade dos imbatíveis exércitos de saúvas, que, ferozmente, devoravam sua lavoura e reservas de milho e feijão. Desanimado, estende sua dor à pobre população rural, lamentando o abandono de terras improdutivas e a falta de solidariedade do governo, protetor dos grandes latifundiários do café. Para ele, era necessária uma nova administração.

A Revolta da Armada - insurreição dos marinheiros da esquadra contra o continuísmo florianista - faz com que Quaresma abandone a batalha campestre e, como bom patriota, siga para o Rio de Janeiro. Alistando-se na frente de combate em defesa do Marechal Floriano, torna-se comandante de um destacamento, onde estuda artilharia, balística, mecânica.

Durante a visita de Floriano Peixoto ao quartel, que já o conhecia do arsenal, Policarpo fica sabendo que o marechal havia lido seu "projeto agrícola" para a nação. Diante do entusiasmo e observações oníricas do comandante, o Presidente simplesmente responde: "Você Quaresma é um visionário".

Após quatro meses de revolta, a Armada ainda resiste bravamente. Diante da indiferença de Floriano para com seu "projeto", Quaresma questiona-se se vale a pena deixar o sossego de casa e se arriscar, ou até morrer nas trincheiras por esse homem. Mas continua lutando e acaba ferido. Enquanto isso, sozinha, a irmã Adelaide pouco pode fazer pelo sítio do Sossego, que já demonstra sinais de completo abandono. Em uma carta à Adelaide, descreve-lhe as batalhas e fala de seu ferimento. Contudo, Quaresma se restabelece e, ao fim da revolta, que dura sete meses, é designado carcereiro da Ilha das Enxadas, prisão dos marinheiros insurgentes. 

Uma madrugada é visitado por um emissário do governo que, aleatoriamente, escolhe doze prisioneiros que são levados pela escolta para fuzilamento. Indignado, escreve a Floriano, denunciando esse tipo de atrocidade cometida pelo governo. Acaba sendo preso como traidor e conduzido à Ilha das Cobras. Apesar de tanto empenho e fidelidade, Quaresma é condenado à morte. Preocupado com sua situação, Ricardo busca auxílio nas repartições e com amigos do próprio Quaresma, que nada fazem, pois temem por seus empregos. Mesmo contrariando a vontade e ambição do marido, sua afilhada, Olga, tenta ajudá-lo, buscando o apoio de Floriano, mas nada consegue. A morte será o triste fim de Policarpo Quaresma.

PRÉ-MODERNISMO / PROSA / GRAÇA ARANHA

Análise da obra

Tendo sido lançado no mesmo ano de Os Sertões, de Euclides da Cunha (1902), poderíamos dizer que Canaã é o primeiro romance ideológico brasileiro em que se discute o destino histórico do Brasil. Ao mesmo tempo, Canaã representou uma ponte entre as correntes filosóficas e estéticas do final do século XIX (Realismo, Naturalismo, Simbolismo) e a revolução modernista da segunda década do século XX.

O pólo central de Canaã são os debates entre dois colonos alemães que se estabelecem no Espírito Santo: Milkau e Lentz.

O personagem Milkau

Milkau representa o otimismo, a confiança no futuro do Brasil e na força regeneradora do amor universal. A maneira de Tolstói, Milkau prega a integração harmônica de todos os povos na natureza-mãe, revelando um evolucionismo humanitário. É um humanista saudoso do gênio livre e individualista da Alemanha. Por isso deplora o desmoronamento da tradição da cidade brasileira invadida por colônias estrangeiras e sonha com a “ligação do homem ao homem” e com a realização da liberdade.

Milkau não se limita à defesa de idéias abstratas. Seu humanismo desdobra-se em ação quando passa a proteger Maria, jovem colona, expulsa pelos patrões quando estes a sabem grávida, vindo a dar à luz em trágica situação.

Após salvar Maria, libertando-a do cárcere onde estava por ter sido acusada de matar o próprio filho (na verdade Maria tem o filho devorado por uma vara de porcos), Milkau foge, juntamente com Maria, em direção a outros horizontes, numa “corrida no Infinito”, em busca da luminosa Canaã, a Terra Prometida, “onde as feras não fossem homens”, onde a vida não seja uma competição de ódios mas uma conquista de amor.

Visto desta maneira, Canaã é o poema das raças novas, da miscigenação das raças, de onde nascerá a perfeita harmonia universal.

O personagem Lentz

Lentz é um adepto das teorias racistas. Para ele, os brasileiros, por serem mestiços, estão condenados à dominação por parte de raças “superiores”. Lentz profetiza a vitória dos arianos, enérgicos e dominadores, sobre o brasileiro fraco e indolente. Suas idéias deixam entrever a filosofia de Nietzsche e o evolucionismo de Darwin.

Para Lentz, renovar o Brasil é cobri-lo com os corpos humanos da raça superior, demonstração representativa do colonialismo agressivo, ou seja, imperialismo, calorosamente discutido com alusões estéticas.

“A lei do amor” x “A lei da força”

Assim, podemos ver que Milkau e Lentz representam duas ideologias postas em debate. E o contraste entre o universalismo (Milkau) e o racismo (Lentz), entre a “lei do amor” (Milkau) e a “lei da força” (Lentz). Justamente neste ponto, Canaã adquire maior importância para a Literatura Brasileira, pois o romance de confrontação ideológica era inédito entre nós, e antecipou a tomada de consciência dos modernistas.

Na verdade, Graça Aranha, com Canaã, apresenta tópicos que serão desenvolvidos mais tarde em A Estética da Vida, de 1921. O brasileiro terá de vencer o Terror Cósmico, superar o lírico individual e atingir a poesia do cosmos unitário, numa identificação de consciência e universo.

Graça Aranha toca, portanto, no ponto vital das discussões do início do século XX: a campanha por uma estética nacional assimilada na consciência universal, Este era o debate do dia-a-dia: a nacionalidade brasileira, vista e analisada profundamente, opondo-se ao ufanismo e ao patriotismo superficial.

A estrutura romanesca e a linguagem

Muitos têm afirmado que a extrema preocupação de Graça Aranha em discutir idéias (Canaãé, na verdade, um romance de idéias) prejudicou a composição ficcional (literária) propriamente dita. José Guilherme Merquior acusa a má intervenção do pensamento, da tese, na matéria narrada. A dimensão realista do livro é incompatível com a sua dimensão explicativa. Daí resultaria uma certa deficiência estrutural da obra. O ardente desejo de explicar o “objetivismo dinâmico” leva o autor a fazer “filosofia ficcionalizada” ou “ficção filosofante”. Formalmente, isto se revela na intervenção teórica do autor a cada momento do romance, através de digressões que interrompem o universo ficcional. Daí o esvaziamento das personagens (são praticamente idéias, e não pessoas), a desvalorização do enredo que serve apenas de pretexto para análises sociais ou psicológicas do Brasil. Mesmo o drama de Maria, a personagem trágica do romance, é entremeado de longas cenas que demonstram a lubricidade e a venalidade dos magistrados locais. Já no final, quando Milkau busca o juiz dedireito para tentar uma solução para o processo em que Maria está envolvida, os dois acabam discutindo sobre a etnia brasileira, aproveitando Graça Aranha para tecer argumentos sobre o mulatismo.

Entretanto, se levado pela preocupação em discutir o Brasil, Graça Aranha não estruturou personagens ou enredo convincentes, algumas cenas de violência e instinto servem de relevo e interesse pela linguagem impressionista de que se revestem, assim como as descrições ricas da natureza brasileira. São cenas tipicamente naturalistas: o enterro do velho caçador, cujo cadáver é disputado aos coveiros por cães furiosos e urubus famintos; o rito bárbaro dos magiares, que fecundam a terra com o sangue de um cavalo açoitado até a morte; o pavor de Maria na estalagem em que se abriga, dormindo juntamente com uma velha criada que esconde pedaços de carne sob o colchão e, à noite, os ratos passeiam-lhe sobre o corpo; enfim o nascimento do filho de Maria em plena mata, entre porcos que acabam por devorar a criança diante do horror da mãe. Evidentemente, estas cenas vão além do realismo, mas não chegam a um naturalismo “científico” de um Zola. Este naturalismo é sensível ao nível da linguagem narrativa, tipicamente impressionista. De fato, natureza, ambiente, homens e coisas são apreendidos num enfoque impressionista, usando o narrador uma retórica declamatória com farta adjetivação, na qual dois ou três adjetivos ligam-se ao mesmo substantivo, ou até os substantivos adjetivam. A descrição de Maria adormecida na mata, coberta pelos pirilampos, representa bem o impressionismo, filtrado de simbolismo. De fato, formas, cores, aspectos luminosos confundem-se numa descrição emocional do momento, através de períodos breves, geralmente no imperfeito do indicativo, sugerindo a idéia de continuidade.  

Assim, Can revela-se uma obra sincrética. Do Realismo encontramos traços na fixação da paisagem humana da colônia, em prosa quase documental, com a simplicidade da vida laboriosa dos imigrantes ou as doenças da burocracia judiciária. Do Simbolismo encontramos a preocupação metafísica, a alegoria retórica, a associação das sensações do momento que faz com que o naturismo ultrapasse a simples observação da realidade. Note-se ainda a presença de mitos folclóricos indígenas e europeus, que ajudam no’ desenvolvimento da idéia de Milkau e na exaltação do Brasil.

MAIS EXERCÍCIOS!

1. (UNIVEST) Triste Fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto, é 

a) a narrativa da vida e morte de um funcionário humilde conformado com a realidade social do seu tempo.
b) uma autobiografia em que a personagem-título expõe sua insatisfação com relação a burocracia carioca.
c) o relato das aventuras de um nacionalista ingênuo e fanático que lidera um grupo de oposição no início da República.
d) um livro de memórias em que o personagem-título, através de um artifício narrativo, conta as atribulações de sua vida até a hora da morte.
e) a história de um nacionalista fanático que, quixotescamente, tenta resolver sozinho os males sociais de seu tempo.


2. (PUC) Da personagem que dá título ao romance Triste Fim de Policarpo Quaresma, podemos afirmar que 

a) foi um nacionalista extremado, mas nunca estudou com afinco as coisas brasileiras.
b) perpetrou seu suicídio, porque se sentia decepcionado com a realidade brasileira.
c) defendeu os valores nacionais, brigou por eles a vida toda e foi condenado à morte injustamente por valores que defendia.
d) foi considerado traidor da pátria, porque participou da conspiração contra Floriano Peixoto.
e) era um louco e, por isso, não foi levado a sério pelas pessoas que o cercavam.


3. (FUVEST) No romance Triste Fim de Policarpo Quaresma, o nacionalismo exaltado e delirante da personagem principal motiva seu engajamento em três diferentes projetos, que objetivam “reformar” o país. Esses projetos visam, sucessivamente, aos seguintes setores da vida nacional:

a) escolar, agrícola e militar;
b) linguístico, industrial, e militar;
c) cultural, agrícola e político;
d) linguístico, político e militar;
e) cultura, industrial e político.


4. (PUC) Associe as obras pré-modernistas (primeira coluna) aos respectivos fragmentos a elaspertencentes (segunda coluna).

I. Triste Fim de Policarpo Quaresma (Lima Barreto) 
II. Os Sertões (Euclides da Cunha)
III. Lendas do Sul (Simões Lopes Neto)

( ) “Canudos não se rendeu. Exemplo único emtoda a história, resistiu até o esgotamento completo. Expugnado palmo a palmo, na precisão integral do termo, caiu no dia 5, ao entardecer, quando caíram os seus últimosdefensores, que todos morreram.”
( ) “Foi assim e por isso que os homens, quando pela primeira vez viram a boiguaçu tão demudada, não a conheceram mais. Não conheceram e julgando que era outra, muito outra, chamam-na desde então de boitatá cobra de fogo, boitatá, a boitatá!”
( ) “Desde moço, aí pelos vinte anos, o amor da Pátria tomou-o todo inteiro. (...) estudou a Pátria, nas suas riquezas naturais, na sua história, na sua geografia, na sua literatura e na sua política.” 

A sequência correta, de cima para baixo, na segunda coluna, é 

a) II – III – I 
b) III – II – I 
c) I – II – III 
d) II – I – III 
e) I – III – II

LIMA BARRETO

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Bjs,

EXERCÍCIOS / PRÉ-MODERNISMO

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EXERCÍCIOS / URUPÊS

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PRÉ-MODERNISMO / PROSA / LOBATO / URUPÊS

Os faroleiros é um conto que narra a história de Eduardo, que viveu em um farol por alguns dias e nesse tempo testemunhou uma tragédia. Depois de ler um livro – O perturbador do tráfego – ficou curioso da vida em um farol e assim conheceu Gerebita, o faroleiro de Albatrozes. Através do dinheiro conseguiu passar uma temporada no farol, lá Gerebita lhe falou sobre o ajudante que tinha, Cabrea, o único homem que não podia ter sido escolhido para esse cargo. Ao falar de Cabrea, Gerebita acabou fazendo Eduardo acreditar que o homem era louco. E assim em uma noite ele acordou com barulhos de luta e testemunhou Gerebita matando Cabrea. A resposta do crime foi legítima defesa e o corpo foi entregue ao mar. Eduardo jurou segredo, mas saindo do farol contou o caso e veio descobrir que entre os faroleiros havia uma rixa porque Cabrea fugiu com a mulher de Gerebita.

O engraçado arrependido conta a história do chamado Pontes. Desde sempre ele fazia todos rirem absurdamente. Era considerado o homem mais engraçado das redondezas, mas com o passar dos anos ele se cansou de levar esse título. Decidiu se tornar um homem sério e a sua seriedade só lhe deixou mais engraçado – na opinião alheia. Ele tentou procurar emprego, mas todos achavam que ele estava era fazendo mais uma grande piada. Pensou então no Estado, ali o aceitariam. Queria a coletoria federal, cargo do major Bentes. O homem sofria de um aneurisma e podia morrer a qualquer momento, deixando a vaga. Pontes contava com um parente do Rio de Janeiro que lhe garantiria a vaga assim que ela estivesse disponível e, para isso, Pontes só teria que avisá-lo quando o major viesse a falecer. Mas Bentes se fazia forte e assim Pontes estudou tudo que existia sobre aneurisma e chegou à conclusão de que um grande esforço poderia matar o homem. Em seguida se aproximou dele e se tornou homem de sua amizade. Pontes acreditava que rir bastante era um esforço fatal ao major e assim descobriu o que lhe faria rir e trabalhou na melhor piada de todas. Em um jantar, deu seu golpe fatal: Bentes explodiu em uma última gargalhada. Pontes, então, tomado de culpa, correu para casa onde se escondeu por uns dias. Quando saiu da sua reclusa, recebeu uma carta do parente carioca que lhe dizia que o cargo havia sido ocupado, pois ele demorara a saber da morte do major. Alguns dias depois, o povo ria de Pontes, que se enforcara em uma ceroula.

A colcha de retalhos conta a história de uma família. José da Alvorada era o patriarca e há pouco recebera a visita de um amigo. Este encontrou, no rancho da família, o amigo José, naturalmente, a sua esposa Ana, a filha Maria das Dores e a sogra Joaquina. D. Ana na época já aparentava mais idade do que tinha e era atormentada por varias doencinhas. Maria das Dores era uma menina tímida e calada e Joaquina nos seus setenta anos ainda era animada e disposta. Ela costurava uma colcha de retalhos que daria à neta como presente de noivado, os retalhos que compunham a colcha eram todos pedacinhos dos vestidos que a menina usara ao longo da vida. O amigo foi ali para propor um negocio a José, mas este não se animou e, por isso, acabou indo embora. Dois anos se passaram e D. Ana morreu, e corria um boato que Maria das Dores fugira com um rapaz para a cidade, não pra se casar, mas para “ser moça”. Em uma noite, o amigo da família Alvorada sentiu que deveria ir até o rancho. Foi e lá encontrou Joaquina, já bastante envelhecida, que lhe contou a tristeza de ter perdido suas filha e neta. Ao ver a colcha de retalhos, ela lhe contou o que cada um daqueles pedacinhos representava e disse que seu último desejo era ser enterrada com a colcha. O amigo foi embora e depois ficou sabendo que a velha morrera e seu desejo não fora cumprido.

A vingança da peroba fala da briga entre duas famílias, a dos Nunes e a dos Porungas. A primeira família era composta mais por mulheres, só viera apenas um menino que, por influência do pai bêbado, começou logo logo a beber, a fumar e a bater nas mulheres; a terra não tinha selo e cultivo nenhum. Os Porungas, por sua vez, tinham um rancho bem cuidado, animais gordos e faziam até mesmo uma boa colheita. Chegou um dia em que Nunes decidiu reagir e enriquecer suas terras também. Plantou milho e precisava de um monjolo e por isso derrubou uma peroba que ficava na linha das terras entre os Nunes e os Porungas. Na manhã seguinte à derrubada da árvore, os Porungas vieram reclamar, falando que a árvore também lhes pertencia já que ficava no meio da linha de divisa. Nunes respondeu que se metade era dele, ele ia usar sua metade. Construiu o monjolo, o ajudante lhe disse que havia lendas de que as árvores têm alma e se vingavam daqueles que as derrubavam. Com o monjolo pronto, Nunes sonhava com a prosperidade que o milho lhe traria, mas a ferramenta não prestou como deveria. Ele até tentou arrumá-la, mas nada se deu. Logo ele virou motivo de riso entre o povo, porque um dos Porungas veio espiar o monjolo e contou a todos a porcaria que era. Foi assim que Nunes se pôs a beber com o filho. Mais tarde, entre os gritos das mulheres, encontrou a cabeça do menino separada do corpo graças ao monjolo.

Um suplício moderno conta o caso de Biriba. O governo da época tinha um cargo chamado estafetamento e tratava-se de uma espécie de pombo-correio que devia fazer a correspondência entre duas cidades que não eram ligadas pela via férrea. Biriba tinha se dado mal em todos os seus negócios, era lerdo e acabou por perder a fazenda e fechar o botequim. Sua vida se resumia a arrumar o seu topete e se interessar por política. O partido que defendia dava a ele sempre os piores ofícios como barganha pelo baixo número de votos que recebia. Quando o seu partido ganhou as eleições, Biriba experimentou o sabor da vitória e já sonhava com altos cargos quando a ele sobrou o de estafeto. Nada pior: quem ficava com esse cargo vivia na estrada, nunca chegava porque sempre havia a volta e a jornada seguinte e ainda tinha que enfrentar sol e chuva com folga de um único dia nos meses ímpares. Biriba, que só respondia “sim senhor”, seguiu no cargo, mesmo emagrecendo e empalidecendo. Reclamou e nem demissão conseguiu. Por fim nasceu nele a idéia de trair o partido. Nas eleições seguintes, ficou encarregado de levar um “papel”, algo essencial. Na ida se meteu no mato e ficou na casa de um negro por dez dias; quando voltou seu partido tinha perdido e ele, quando questionado do que ocorrera, dizia não entender, pois havia entregado o papel no dia seguinte à sua partida. No novo governo vieram lhe comunicar que todos foram demitidos, mas o cargo dele seria sempre dele. À noite, Biriba amarrou a égua e sumiu.

Meu conto de Maupassant conta a história de dois viajantes. Os dois conversavam no trem até que um avistou uma árvore e contou uma história ao colega de quando era delegado ali na região. Ele dizia que vieram lhe contar que um tal italiano que ali vivia, do tipo ruim, bêbado e jogador, tinha matado uma velha com uma foice, separando-lhe a cabeça e o corpo que se encontravam ali ao pé da árvore. Ele prendeu o italiano e tudo levava a acreditar que ele era o culpado, mas no dia seguinte já estava solto. Mesmo assim ele continuou de olho no italiano que vendeu seus negócios e foi embora. Anos mais tarde o caso ressurgiu e prenderam o tal, ele voltou sem objeções e olhava o tempo inteiro pela janela. Quando passou por aquela árvore, pulou fora do trem e depois encontraram-no com a cabeça rachada nos pés da mesma árvore. Um tempo depois, o filho da velha morta foi preso por matar um companheiro com a foice e, estando preso, confessou ter matado a mãe.

Pollice Verso fala da história de Nico, filho do coronel Inácio Gama. O coronel era metido em leituras e usava sempre entre suas frases palavras complicadas. Certa vez, vendo o filho maltratar os animais, disse que o menino daria para médico e assim o fez. Quando homem, Nico saiu da fazenda e foi para a cidade, onde se formou em Medicina. Lá também entrou nos amores com uma francesa, Yvonne, que já tinha prometido a mais oito homens o seu coração, e a cada um indicara uma constelação para lembrarem-se dela. Depois disso, Nico voltou às terras do pai. Passava todo o tempo farto da vida no interior lembrando-se dos amigos, amores e farras da cidade. Olhava para as estrelas e lembrava-se de Yvonne e sonhava em ir a Paris ter com ela. Nesse ponto que adoeceu o Major Mendanha, que tinha trinta contos. Chamaram o Nico para tratar dele, o menino diagnosticou a doença e declarou a cura em um mês. Porém era costume naquela época dar a herança ao médico que tratava o doente caso ele morresse. Assim Nico, que sonhava com o dinheiro fácil – motivo pelo qual fez medicina – para ir a Paris ter com Yvonne, optou por deixar morrer o major. Entrou na justiça e ganhou os trinta contos. Foi para a Europa ter com sua amada. Escrevia pro pai dizendo ter palestras com ilustres médicos e ser residente em três hospitais, mas a verdade é que os três hospitais eram os três cabarés que freqüentava quando não estava no apartamento de Yvonne. No Brasil, ficava o coronel iludido e a mãe já era morta mesmo.

Bucólica – ele era um amante da natureza, gostava das flores... Era sensível. Ficou sabendo que a Anica tinha morrido, perguntava do quê, mas ninguém sabia responder. Tinha morrido. Só isso podiam e sabiam dizer. Finalmente encontrou Inácia, uma agregada da casa dos Suãs – família da menina – essa saberia do que a menina tinha morrido. A negra contou. A menina tinha morrido de sede! Era aleijada, estava doente e então Inácia foi ao bairro do Libório, mas começou a chover e ela ficou presa por lá. À noite, Anica pediu água para a mãe, mas ela não buscou e a pobre, já sofrendo na cama, ficou a gemer com sede. Encontraram o corpo dela na cozinha, aos pés do pote de água. Não conseguiu nem alcançar o pote, a caneca estava como antes, toda a cozinha estava como antes, exceto pelo corpo da aleijada que se arrastou até lá para morrer de sede tão perto da água.

O mata-pau – o capataz e ele estavam andando pelas terras quando pararam para beber água. Ali ele avistou uma árvore e perguntou que tipo de planta era aquela. O capataz explicou que era um mata-pau, uma árvore que parasitava na outra até matá-la. Seguiram o caminho até que passaram por uma casinha, o antigo sítio do Elesbão. O capataz, então, foi contar a história do sítio. Elesbão vivia ali com o pai, quando entrou na puberdade disse que queria casar e o pai, crendo que o rapaz era homem, falou-lhe que escolhesse a noiva. Ele casou se com Rosinha, era feia e as moças da família tinham má fama, mas mesmo assim casou-se. Viviam bem no sítio e a moça acabara ficando bonita, engordara e era uma das mais belas da redondeza. Foi quando ouviram o choro de uma criança lá fora. No dia seguinte encontraram o bebê e resolveram criá-lo. Chamava-se Manuel Aparecido. Conheciam-no por Ruço e, à medida que crescia, ia mostrando que não era bom rapaz. Elesbão reclamou com o pai que se arrependera de ter acolhido o bebê. O pai morreu. Viviam só os três agora, e Ruço já chegava aos dezoito anos quando ele e Rosinha começaram um caso. Na rua comentavam, falaram pra Elesbão abrir os olhos, mas ele acabou morrendo sem nada saber. Neste tempo Rosinha envelhecera muito mais do que a quantia de anos passados e ela amava Ruço mais do que ele a ela. Ele a maltratava, mas mesmo assim, como última prova de amor, ela fez a vontade dele e vendeu as terras do sítio, iriam embora. Na noite antes da partida, Rosinha acordou com a casa pegando fogo, ela estava sozinha e trancada, mas conseguiu escapar. Amanheceu no mesmo lugar onde encontrara Ruço quando ainda era um bebê. Levaram-na para o hospital, as queimaduras curaram, o juízo se perdeu. Mas ainda foi feliz, pois quando sua vida iria virar um inferno, enlouqueceu.

Bocatorta conta a história de um negro horroroso, com a boca torta e a gengiva parecendo uma ferida com pedaços de dentes, pernas tortas e pés desalinhados. Ele morava no mato da fazenda do coronel Zé Lucas. Vargas, que contava do tal negro a Eduardo, era noivo de Cristina, a filha do coronel. O doutor ficou interessado pelo negro e quis conhecê-lo, assim, no dia seguinte iriam visitá-lo. Cristina não se animou com a visita, pois quando criança metiam medo nela usando a imagem do Bocatorta e até pouco tempo tinha pesadelos em que o negro a perseguia. Eduardo, então, incentivou-a a acompanhá-los, porque nada melhor que a realidade para curar os enganos da imaginação. No jantar falaram sobre um caso que corria na cidade: no túmulo da Luizinha, moça morta recentemente, foi encontrado a terra fuçada e pegadas estranhas a humanos e a animais. E dessa vez o padre tinha visto também, não só o coveiro. Na manhã seguinte, todos foram ver o Bocatorta. Cristina fez todo o caminho calada e temerosa. Quando chegaram à tapera, o negro saiu da porta que mal passaria um homem rastejando e ficou ali no cercado junto com seu cachorro magro e sarnento. Cristina e sua mãe, d. Ana, se afastaram de imediato e evitaram olhá-lo. Eduardo, após ver o monstro, se afastou também. Logo estavam de volta. No dia seguinte, Cristina amanheceu febril, foi diagnosticada a pneumonia e no décimo dia ela morreu. Eduardo, na noite da morte de Cristina foi visitar o túmulo de sua ex-noiva. Andando pelo cemitério à procura do túmulo dela, deparou-se com um corpo alvo agarrado por um outro, negro como carvão. Eduardo saiu correndo e só parou quando chegou à casa do coronel. Contou que mexiam no túmulo de Cristina, o que fez sairem o coronel, o capataz e Eduardo. O último ficou no meio do caminho desmaiado. O coronel e o capataz foram atrás do necrófilo Bocatorta e quando já o tinham preso, chamaram Eduardo. Iam matar com um tiro o negro, mas Eduardo deu uma sugestão melhor. Jogaram-no pântano que tinha na fazenda, tão profundo que era preciso três bambus amarrados um no outro para alcançar seu fundo. No dia seguinte o cachorro do Bocatorta chorava ao lado do pântano e o corpo de Cristina estava de novo enterrado levando o beijo do negro consigo. O único beijo que ele já experimentara.

O comprador de fazendas conta uma história ocorrida na chamada fazenda do Espigão, tida como a pior fazenda que já existiu. Já tinha falido três donos e agora levava mais um para a bancarrota, chamava-se Davi. Já perdido em dívidas, ia vender a fazenda. Veio para olhar as terras um tal de Pedro Trancoso, preparam tudo para convencê-lo de que era uma boa terra. Quando o rapaz chegou, achou toda a fazenda muito boa e aceitou o preço que foi proposto, sem levar os animais nem a mobília. Partiu no outro dia levando alguns ovos e a barriga cheia de bolinhos, frango e manteiga. Tudo arranjado para a visita dele. Voltaria na semana seguinte para fechar o negócio. Assim, no coração da família nasciam os sonhos. A mãe, Isaura, já sonhava com uma bela e grande casa; Zico, o filho, já tinha garantido com o pai seis contos para começar seu armazém e Zilda, a filha romântica, sonhava com o casamento com o tal do Pedro Trancoso que ficara cheio de galanteios para com ela. Acontece que os dias passaram e ele não voltou. Davi escreveu a um parente que era da mesma cidade do comprador e este contou-lhe que a verdade é que ele não passava de um picareta que dizia-se interessado pelas fazendas em todo o país para se aproveitar da hospitalidade dos donos das terras. Assim os sonhos da família ruíram. Um tempo depois, Pedro Trancoso voltou ao Espigão. Ele havia ganhado na loteria e queria casar com Zilda, dando ao sogro o posto de organizador das terras do Espigão, as quais iria comprar. Mas quando se aproximou da fazenda, foi recebido com lambadas e posto dali pra fora sem nada dizer. A pobre da Zilda ficou na janela vendo as esperanças que tinham lhe nascido com a volta dele morrerem. Depois com o tempo concluiu que morrer de amores é coisa só de romances.

O estigma conta a história de dois amigos. Bruno andava por essas terras quando por acaso chegou à fazenda de Fausto, antigo amigo da época da escola que não via há tempos. Encontrou-o casado e com filhos, mas logo viu que casara pelo arranjo financeiro, pois a mulher era má. Vivia ali também uma mocinha, Laura, prima de Fausto, que ficando órfã foi recolhida por ele. Bruno galanteou com ela e depois de conhecer as terras do amigo foi embora. Anos mais tarde eles se reencontraram, Fausto então lhe contou a tragédia que fora sua vida. Naquele primeiro reencontro Fausto disse a Bruno que Laura era o único raio de luz e calor existente na Noruega fria que era sua vida, seu casamento. Depois disso, Fausto descobriu que amava Laura, lutou contra o sentimento, mas seu relacionamento com sua esposa, que já não era bom, piorou. Em um dia, ele saiu para caçar e viu Laura saindo também em direção a floresta, pois ela tinha o costume de ir para lá bordar. Fausto acabou não caçando, mas refletindo muito sobre sua vida. Quando voltou, um dos seus filhos lhe perguntou se ele tinha visto a Laurinha que tinha saído há tempo e não voltara. A esposa estava trancada no quarto e não queria ver ninguém. Fausto saiu com seus homens atrás de Laura e depois de muita busca encontraram-na morta, ferida por um tiro. A moça suicidou-se com o revólver de Fausto. A esposa não quis ver a moça morta, usando a sua gravidez como pretexto. Fausto nunca entendera a morte de Laura, sem nenhuma carta que justificasse e ainda usando o revólver dele, o mesmo que só ele e a esposa sabiam onde ficava. Finalmente quando nasceu o filho, descobriu todo o mistério. O menino nasceu com uma cicatriz que refazia com precisão o ferimento e o sangue que foi encontrado em Laura. Fausto não se conteve e mostrando o corpo do menino à sua esposa a acusou do crime, ela não disse nada e em pouco tempo morreu. Fausto, então a essa altura da história, chamou o filho para mostrar a Bruno a marca de nascença. Este, que ia fazer um comentário, foi calado por Fausto, pois o menino não sabia da verdade.

Velha praga fala da praga que é o homem, ou melhor, o caboclo. Ele vem com sua mulher, que carrega um menino na barriga, um no braço e outro de sete anos agarrado em sua saia com uma faquinha na cintura e já com um fumo na boca, além de um cachorro sarnento. Erguem uma tapera de sapê, penduram o santo e se estabelecem ali. Em agosto, deitam fogo na terra, destroem tudo com ele, ainda olham e falam “que fogo bonito”. Com isso deixam a terra pura cinza e em setembro, quando a chuva vem, plantam milho. Depois, quando a terra para de dar o milho, eles vão embora. Em pouco tempo a terra engole a taperinha que construíram. A justiça não faz nada contra o fogo que eles causam, a lei não os prende por isso. O caboclo apenas é “tocado”, mandado embora das redondezas, mas sempre repete a dose onde se estabelece e depois vai embora, deixando a natureza se encarregar de esquecer sua passagem.

Urupês fala do caboclo. Começa contando como na literatura caminharam até chegar ao índio e depois o trocaram pelo cabloco. Fala também de como nos livros o cabloco é uma coisa muito diferente da realidade. Porque, na verdade, o caboclo não tem nada de admirável, o que ele vende é o que a terra dá e a qualquer um basta colher; ele não precisa de banco porque seu calcanhar rachado lhe serve de tamborete; ele não conhece talher porque as mãos já fazem o papel da faca, do garfo, da colher, usa no máximo uma tigela. Vive em sua casa de sapê e, se uma goteira aparece, coloca uma tigela para aparar a água; buracos na parede servem de gaveta. Justifica-se dizendo que não vale a pena. Qualquer serviço não vale a pena pro caboclo, pro jeca. Não precisa de guarda-roupa porque só tem a que veste e uma que está lavando. Democracia conhece só como ir buscar os papéis com um coronel e votar em nem sabe quem. Doença se cura com três caroços de feijão e etc; parto perigoso resolve com uma foto de são Benedito. De religião tem os santos como os coronéis do céu e usa de Deus como justificativa, “Deus quis”. Arte não produz nenhuma. E assim vai todo o conto retirando do caboclo todo o romantismo.

PRÉ-MODERNISMO / PROSA / LOBATO

Monteiro Lobato - Cidadão Escritor
Monteiro Lobato - óleo de J. U. Campos, 1947 (clique para ampliar)
Na sua maior parte, a obra de Monteiro Lobato é o resultado da reunião de textos escritos para jornais ou revistas. Comprometido com as grandes causas de seu tempo, o criador do Jeca Tatu engajou-se em campanhas por saúde, defesa do meio-ambiente, reforma agrária e petróleo, entre outros temas que continuam atuais. Ele arrebatava o público com artigos instigantes, que hoje, vistos de longe, constituem um precioso retrato de época, um painel socioeconômico, político e cultural do período. Dono de estilo conciso e vigoroso, com forte dose de ironia, utilizava uma linguagem clara e objetiva, compreensível ao grande público. Lobato revelou o mundo rural, então ignorado pelos escritores de gabinete que ele tanto criticava. “A nossa literatura é fabricada nas cidades”, dizia, “por sujeitos que não penetram nos campos de medo dos carrapatos”.

PARA SABER MAIS, ACESSE: http://lobato.globo.com/lobato_Linha.asp#1918_1925

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

OS SERTÕES - QUESTÃO 01

       Em Os Sertões, de Euclides da Cunha, a natureza:
a) condiciona o comportamento do homem, de acordo com as concepções do determinismo cientifico de fins do século XIX;
b) é objeto de uma descrição romântica impregnada dos sentimentos humanos do autor;
c) funciona como  contraponto à narração, ressaltando o contaste entre o meio inerte e o homem agressivo;
d) é o tema da primeira parte da obra, A Terra, mas não funciona como elemento determinante da ação;     
e) é cenário desolador, dentro do qual vivem e lutam os homens que podem transformá-la, sem que sejam por ela transformados.

PRÉ-MODERNISMO AULA 1

PRÉ-MODERNISMO
       BRASIL REPUBLICANO: 1888
       2/3 DA POPULAÇÃO NAS MÃOS DOS LATIFUNDIÁRIOS.
       CENTROS URBANOS: EUROPEIZAÇÃO
       ELIMINAR TRAÇOS DA ARQUITETURA PORTUGUESA
       DESLOCAMENTO DE FAMÍLIAS POBRES DA CIDADE PARA OS CORTIÇOS / FAVELAS
       NORDESTE: SECA / GUERRA DE CANUDOS
       NORTE: BORRACHA
       SÃO PAULO: CAFÉ / GREVES OPERÁRIAS
       RIO DE JANEIRO: REVOLTAS VACINA / CHIBATA
       CHEGADA DE IMIGRANTES :  DIVERSIDADE
       NÃO É CONSIDERADO UMA ESTÉTICA LITERÁRIA: MULTIPLICIDADE DE FOCOS E DE INTERESSES
       PERÍODO DE TRANSIÇÃO:  1902-1922
       INTENÇÕES EM COMUM
       DESEJO DE REVELAR O VERDADEIRO BRASIL PARA OS BRASILEIROS
       DESVIAR O OLHAR DAS CLASSES SOCIAIS MAIS PRIVILEGIADAS
       SEM IDEALIZAÇÃO COMO NO REGIONALISMO ROMÂNTICO
       AGENTES DO DISCURSO :  JORNAIS
       INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS : TELÉGRAFO
       FOTOGRAFIA
       GOSTO PELA ATUALIDADE
       PONTOS DE CONTATO COM A REALIDADE
       OBRAS LITERÁRIAS: ACONTECIMENTOS HISTÓRICOS E ATUAIS
       1902: OS SERTÕES, DE EUCLIDES DA CUNHA
       AGILIDADE NO TRATO COM OS ACONTECIMENTOS CONTEMPORÂNEOS
       LINGUAGEM MAIS DIRETA, MAIS OBJETIVA
       TEXTO JORNALÍSTICO
       DESMISTIFICAÇÃO DO TEXTO LITERÁRIO
       UTILIZAÇÃO DE UM PORTUGUÊS MAIS BRASILEIRO
       CRÍTICA À REALIDADE SOCIAL E ECONÔMICA CONTEMPORÂNEA
       EUCLIDES DA CUNHA
       GUERRA DE CANUDOS
       OS SERTÕES: BÍBLIA DA NACIONALIDADE BRASILEIRA ( Joaquim Nabuco)
       TEXTO LITERÁRIO
       TRATADO CIENTÍFICO
       INVESTIGAÇÃO SOCIOANTROPOLÓGICA
       MATÉRIA JORNALÍSTICA
       OS SERTÕES DÁ INÍCIO AO PRÉ-MODERNISMO, REVELANDO , ÀS VEZES, COM CERTA CRUELDADE E PESSIMISMO, O CONTYRASTE CULTURAL NOS DOIS BRASIS: O DO SERTÃO E O DO LITORAL
       RELAÇÃO COM O NATURALISMO
       DETERMINISMO: O HOMEM COMO PRODUTO DO MEIO EM QUE VIVE
       TRATAMENTO REGIONAL AO DETERMINISMO
       ESTRUTURA DO LIVRO
       1- A TERRA: CARACTERÍSTICAS GEOGRÁFICAS DO SERTÃO
       2- O HOMEM: RETRATO DO SERTANEJO / MOSTRAR O IMPACTO DO MEIO SOBRE AS PESSOAS.  APRESENTA ANTONIO CONSELHEIRO E SUA TRANSFORMAÇÃO EM LÍDER MESSIÂNICO.
       3- A LUTA: NARRAÇÃO  DAS LUTAS ENTRE AS TROPAS OFICIAIS E OS SEGUIDORES DE CONSELHEIRO.
       QUEDA DO ARRAIAL DE CANUDOS / DESTRUIÇÃO DE TODAS AS CASAS
       LINGUAGEM BARROCA DE EUCLIDES DA CUNHA
       O SERTANEJO É , ANTES DE TUDO, UM FORTE.
       HÉRCULES-QUASÍMODO
       PARADOXOS
       CONFLITOS PERCEBIDOS NO ESPAÇO INCLEMENTE DO SERTÃO.
       GUERRA DE CANUDOS FOI O CONFRONTO ENTRE O EXÉRCITO BRASILEIRO E INTEGRANTES DE UM MOVIMENTO POPULAR DE FUNDO SÓCIO-RELIGIOSO LIDERADO POR ANTONIO CONSELHEIRO
       DUROU DE 1896 A 1897, NA ENTÃO COMUNIDADE DE CANUDOS, NO INTERIOR DO ESTADO DA BAHIA, NO NORDESTE DO BRASIL