segunda-feira, 5 de maio de 2014

AUTO DA BARCA DO INFERNO - INTERESSANTE !

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AUTO DA BARCA DO INFERNO - MAIS EXERCÍCIOS

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AUTO DA BARCA DO INFERNO - QUESTÕES

Exercício 1: (FUVEST) Indique a afirmação correta sobre o Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente: (A) É intricada a estruturação de suas cenas, que surpreendem o público com a inesperado de cada situação. (B) O moralismo vicentino localiza os vícios, não nas instituições, mas nos indivíduos que as fazem viciosas. (C) É complexa a critica aos costumes da época, já que o autor primeiro a relativizar a distinção entre Bem e o Mal. (D) A ênfase desta sátira recai sobre as personagens populares mais ridicularizadas e as mais severamente punidas. (E) A sátira é aqui demolidora e indiscriminada, não fazendo referência a qualquer exemplo de valor positivo. Exercício2: (FUVEST) Diabo, Companheiro do Diabo, Anjo, Fidalgo, Onzeneiro, Parvo, Sapateiro, Frade, Florença, Brígida Vaz, Judeu, Corregedor, Procurador, Enforcado e Quatro Cavaleiros são personagens do Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente. Analise as informações abaixo e selecione a alternativa incorreta cujas características não descrevam adequadamente a personagem. (A) O Onzeneiro idolatra o dinheiro, é agiota e usurário; de tudo que juntara, nada leva para a morte, ou melhor, leva a bolsa vazia. (B) O Frade representa o clero decadente e é subjugado por suas fraquezas: mulher e esporte; leva a amante e as armas de esgrima. (C) O Diabo, capitão da barca do inferno, é quem apressa o embarque dos condenados; é dissimulado e irônico. (D) O Anjo, capitão da barca do céu, é quem elogia a morte pela fé; é austero e inflexível. (E) O Corregedor representa a justiça e luta pela aplicação integra e exata das leis; leva papéis e processos. Exercício 3: (UNICAMP) Leia o diálogo abaixo, de Auto da Barca do Inferno: DIABO Cavaleiros, vós passais e não perguntais onde ir? CAVALEIRO Vós, Satanás, presumis? Atentai com quem falais! OUTRO CAVALEIRO Vós que nos demandais? Siquer conhecê-nos bem. Morremos nas partes d’além, e não queirais saber mais. (Gil Vicente, Auto da Barca do Inferno, em Antologia do Teatro de Gil Vicente. Org. Cleonice Berardinelli, Rio de Janeiro: Nova Fronteira/ Brasília: INL, 1984, p.89.) A) Por que o cavaleiro chama a atenção do Diabo? B) Onde e como morreram os dois Cavaleiros? C) Por que os dois passam pelo Diabo sem se dirigir a ele? Exercício 4: (PUC) Considerando a peça Auto da Barca do Inferno como um todo, indique a alternativa que melhor se adapta à proposta do teatro vicentino. A) Preso aos valores cristãos, Gil Vicente tem como objetivo alcançar a consciência do homem, lembrando-lhe que tem uma alma para salvar. B) As figuras do Anjo e do Diabo, apesar de alegóricas, não estabelecem a divisão maniqueísta do mundo entre o Bem e o Mal. C) As personagens comparecem nesta peça de Gil Vicente com o perfil que apresentavam na terra, porém apenas o Onzeneiro e o Parvo portam os instrumentos de sua culpa. D) Gil Vicente traça um quadro crítico da sociedade portuguesa da época, porém poupa, por questões ideológicas e políticas, a Igreja e a Nobreza. E) Entre as características próprias da dramaturgia de Gil Vicente, destaca-se o fato de ele seguir rigorosamente as normas do teatro clássico. Repostas: 1)B 2)E 3)RESPOSTAS: A) Porque a fala do Diabo revela seu desrespeito para com um Cavaleiro de Cristo, que morre para defender e propagar a fé cristã. Quem defende a causa cristã não vai na Barca do Inferno. B) Os dois Cavaleiros morreram nas "partes d’além", em um combate contra os mouros na defesa da Igreja. C) Porque estão conscientes da salvação e de que vão na Barca da Glória. 4)A ,COMENTÁRIOS: Gil Vicente, teatrólogo inserido no Humanismo, ainda mantém forte ligação com os valores medievais, sobretudo os cristãos. Dessa forma, busca a moralização do homem para que este encontre a salvação de sua alma. Leia mais: http://asliteratas.webnode.com.br/os-livros/auto-da-barca-do-inferno/exercicios/ Crie seu site grátis: http://www.webnode.com.br

AUTO DA BARCA DO INFERNO - PERSONAGENS

Auto da Barca do Inferno - Conheça os personagens da peça de Gil Vicente ANJO – arrais, ou seja, navegante da barca celeste. DIABO E SEU COMPANHEIRO – conduzem a barca infernal. FIDALGO – representa todos os nobres ociosos de Portugal. ONZENEI RO – simboliza o pecado da usura e a classe dos agiotas. PARVO – representa o povo português, rude e ignorante, porém bom de coração e temente a Deus. FRADE – representa os maus sacerdotes. BRÍSIDA VAZ – alcoviteira (cafetina), simboliza a degradação moral e a feitiçaria popular. JUDEU – representa os infiéis, que são alheios à fé cristã. CORREGEDOR E PROCURADOR – encarnam a burocracia jurídica da época. ENFORCADO – é o símbolo da falta de fé e da perdição. QUATRO CAVALEIROS – representam as cruzadas contra os mouros e a força da fé católica

AUTO DA BARCA DO INFERNO - GIL VICENTE

Antes de mais nada, "auto" é uma designação genérica para peça, pequena representação teatral. Originário na Idade Média, tinha de início caráter religioso; depois tornou-se popular, para distração do povo. Foi Gil Vicente (1465-c. 1537) que introduziu esse tipo de teatro em Portugal. O "Auto da Barca do Inferno" (c. 1517) representa o juízo final católico de forma satírica e com forte apelo moral. O cenário é uma espécie de porto, onde se encontram duas barcas: uma com destino ao inferno, comandada pelo diabo, e a outra, com destino ao paraíso, comandada por um anjo. Ambos os comandantes aguardam os mortos, que são as almas que seguirão ao paraíso ou ao inferno. Chegam os mortos Os mortos começam a chegar. Um fidalgo é o primeiro. Ele representa a nobreza, e é condenado ao inferno por seus pecados, tirania e luxúria. O diabo ordena ao fidalgo que embarque. Este, arrogante, julga-se merecedor do paraíso, pois deixou muita gente rezando por ele. Recusado pelo anjo, encaminha-se, frustrado, para a barca do inferno; mas tenta convencer o diabo a deixá-lo rever sua amada, pois esta "sente muito" sua falta. O diabo destrói seu argumento, afirmando que ela o estava enganando. Um agiota chega a seguir. Ele também é condenado ao inferno por ganância e avareza. Tenta convencer o anjo a ir para o céu, mas não consegue. Também pede ao diabo que o deixe voltar para pegar a riqueza que acumulou, mas é impedido e acaba na barca do inferno. O terceiro indivíduo a chegar é o parvo (um tolo, ingênuo). O diabo tenta convencê-lo a entrar na barca do inferno; quando o parvo descobre qual é o destino dela, vai falar com o anjo. Este, agraciando-o por sua humildade, permite-lhe entrar na barca do céu. O frade e a alcoviteira A alma seguinte é a de um sapateiro, com todos os seus instrumentos de trabalho. Durante sua vida enganou muitas pessoas, e tenta enganar também o diabo. Como não consegue, recorre ao anjo, que o condena como alguém que roubou do povo. O frade é o quinto a chegar... com sua amante. Chega cantarolando. Sente-se ofendido quando o diabo o convida a entrar na barca do inferno, pois, sendo representante religioso, crê que teria perdão. Foi, porém, condenado ao inferno por falso moralismo religioso. Brísida Vaz, feiticeira e alcoviteira, é recebida pelo diabo, que lhe diz que seu o maior bem são "seiscentos virgos postiços". Virgo é hímen, representa a virgindade. Compreendemos que essa mulher prostituiu muitas meninas virgens, e "postiço" nos faz acreditar que enganara seiscentos homens, dizendo que tais meninas eram virgens. Brísida Vaz tenta convencer o anjo a levá-la na barca do céu inutilmente. Ela é condenada por prostituição e feitiçaria. De judeus e "cristãos novos" A seguir, é a vez do judeu, que chega acompanhado por um bode. Encaminha-se direto ao diabo, pedindo para embarcar, mas até o diabo recusa-se a levá-lo. Ele tenta subornar o diabo, porém este, com a desculpa de não transportar bodes, o aconselha a procurar outra barca. O judeu fala então com o anjo, porém não consegue aproximar-se dele: é impedido, acusado de não aceitar o cristianismo. Por fim, o diabo aceita levar o judeu e seu bode, mas não dentro de sua barca, e, sim, rebocados. Tal trecho faz-nos pensar em preconceito antissemita do autor, porém, para entendermos por que Gil Vicente deu tal tratamento a esse personagem, precisamos contextualizar a época em que o auto foi escrito. Durante o reinado de dom Manuel, de 1495-1521, muitos judeus foram expulsos de Portugal, e os que ficaram, tiveram que se converter ao cristianismo, sendo perseguidos e chamados de "cristãos novos". Ou seja, Gil Vicente segue, nesta obra, o espírito da época. Representantes do judiciário O corregedor e o procurador, representantes do judiciário, chegam, a seguir, trazendo livros e processos. Quando convidados pelo diabo para embarcarem, começam a tecer suas defesas e encaminham-se ao anjo. Na barca do céu, o anjo os impede de entrar: são condenados à barca do inferno por manipularem a justiça em benefício próprio. Ambos farão companhia à Brísida Vaz, revelando certa familiaridade com a cafetina - o que nos faz crer em trocas de serviços entre eles e ela... O próximo a chegar é o enforcado, que acredita ter perdão para seus pecados, pois em vida foi julgado e enforcado. Mas também é condenado a ir ao inferno por corrupção. Por fim, chegam à barca quatro cavaleiros que lutaram e morreram defendendo o cristianismo. Estes são recebidos pelo anjo e perdoados imediatamente. O bem e o mal Como você percebeu, todos os personagens que têm como destino o inferno possuem algumas características comuns, chegam trazendo consigo objetos terrenos, representando seu apego à vida; por isso, tentam voltar. E os personagens a quem se oferece o céu são cristãos e puros. Você pode perceber que o mundo aqui ironizado pelo autor é maniqueísta: o bem e o mal, o bom e o ruim são metades de um mundo moral simplificado. O "Auto da Barca do Inferno" faz parte de uma trilogia (Autos da Barca "da Glória", "do Inferno" e "do Purgatório"). Escrito em versos de sete sílabas poéticas, possui apenas um ato, dividido em várias cenas. A linguagem entre os personagens é coloquial - e é através das falas que podemos classificar a condição social de cada um dos personagens. Valores de duas épocas Escrita na passagem da Idade Média para a Idade Moderna, a obra oscila entre os valores morais de duas épocas: ao mesmo tempo que há uma severa crítica à sociedade, típica da Idade Moderna, a obra também está religiosamente voltada para a figura de Deus, o que é uma característica medieval. A sátira social é implacável e coloca em prática um lema, que é "rindo, corrigem-se os defeitos da sociedade". A obra tem, portanto, valor educativo muito forte. A sátira vicentina serve para nos mostrar, tocando nas feridas sociais de seu tempo, que havia um mundo melhor, em que todos eram melhores. Mas é um mundo perdido, infelizmente. Ou seja, a mensagem final, por trás dos risos, é um tanto pessimista.

A FARSA DE INÊS PEREIRA - EXERCÍCIOS

1. (UNIFESP) Para responder à questão, leia os versos seguintes, da famosa Farsa de Inês Pereira, escrita por Gil Vicente: Andar! Pero Marques seja! Quero tomar por esposo quem se tenha por ditoso de cada vez que me veja. Meu desejo eu retempero: asno que me leve quero, não cavalo valentão: antes lebre que leão, antes lavrador que Nero. Sobre a Farsa de Inês Pereira, é correto afirmar que é um texto de natureza: (A) satírica, pertencente ao Humanismo português, em que se ridiculariza a ascensão social de Inês Pereira por meio de um casamento de conveniências. (B) didático-moralizante, do Barroco português, no qual as contradições humanas entre a vida terrena e a espiritual são apresentadas a partir dos casamentos complicados de Inês Pereira. (C) religiosa, pertencente ao Renascimento português, no qual se delineia o papel moralizante, com vistas à transformação do homem, a partir das situações embaraçosas vividas por Inês Pereira. (D) reformadora, do Renascimento português, com forte apelo religioso, pois se apresenta a religião como forma de orientar e salvar as pessoas pecadoras. (E) cômica, pertencente ao Humanismo português, no qual Gil Vicente, de forma sutil e irônica, critica a sociedade mercantil emergente, que prioriza os valores essencialmente materialistas. 2. (PUC-SP) O argumento da peça A Farsa de Inês Pereira, de Gil Vicente, consiste na demonstração do refrão popular “Mais quero asno que me carregue que cavalo que me derrube”. Identifique a alternativa que não corresponde ao provérbio, na construção da farsa: (A) A segunda parte do provérbio ilustra a experiência desastrosa do primeiro casamento. (B) O escudeiro Brás da Mata corresponde ao cavalo, animal nobre, que a derruba. (C) O segundo casamento exemplifica o primeiro termo, asno que a carrega. (D) O asno corresponde a Pero Marques, primeiro pretendente e segundo marido de Inês. (E) Cavalo e asno identificam a mesma personagem em diferentes momentos de sua vida conjugal.

A FARSA DE INÊS PEREIRA - ANÁLISE PASSEIWEB

A Farsa de Inês Pereira é também considerada a peça mais divertida e humanista de Gil Vicente. O aspecto humanístico da obra vê-se pelo fato de que a protagonista trai o marido e não recebe por isso nenhuma punição ou censura, diferentemente de personagens de O Auto da Barca do Inferno e O Velho da Horta, que são castigadas por fatos moralmente parecidos. É uma comédia de caráter e de costumes, que retrata a vida doméstica e envolve tipos psicologicamente bem definidos. A protagonista, Inês Pereira, é uma típica rapariga, leviana, ociosa, namoradeira, que passa o tempo todo diante do espelho, a se enfeitar, tendo em vista um casamento nobre. Por meio dessa personagem, Gil Vicente critica as jovens burguesas, ambiciosas e insensatas. Criticas também na figura de Brás da Mata, o falso escudeiro, tirano e ambicioso, malandro, galanteador, bem-falante e bom cantante, superficial e covarde. As alcoviteiras, alvo freqüente da sátira de Gil Vicente, têm na fofoqueira Lianor Vaz mais um tipo inesquecível da galeria gilvicentina. A classe sacerdotal também é satirizada. Os judeus casamenteiros, Latão e Vidal, aparecem com seu linguajar e atitudes característicos. Gil Vicente esmera-se em compor o contraste entre Pero Marques, o primeiro pretendente, camponês rústico, provinciano, meio bobo, mas honesto e com boas intenções, e Inês Pereira, calculista, frívola e ambiciosa - uma rapariga fútil e insensata, a quem a experiência acabou ensinando a sua lição de vida. Acreditando que a atitude da protagonista expressa, inclusive, a partir de seu discurso - simboliza os valores de um mundo em transição, propiciando uma reflexão acerca das mentalidades medieval e pré-renascentista, nosso estudo propõe uma análise do auto em questão à luz dessa transição, em seus aspectos histórico, social e lingüístico, no olhar desse escritor situado entre dois mundos, sobretudo no que se refere ao papel da mulher. Estrutura da obra A Farsa de Inês Pereira é composta de três partes: 1. Inês fantasiosa - mostra Inês, seus desejos e ambições, e o momento em que é apresentada pela alcoviteira a Pero Marques. Essa parte retrata o cotidiano da protagonista e a situação da mulher na sociedade da época, por meio das falas de Inês, da mãe e da alcoviteira Lianor Vaz. 2. Inês mal-maridada - mostra as agruras do primeiro casamento de Inês. Nessa parte, o autor aborda o comércio casamenteiro, por meio das figuras dos judeus comerciantes e do arranjo matrimonial-mercantil, e o despertar de Inês para a realidade, abandonando as fantasias alimentadas até então. 3. Inês quite e desforrada - a protagonista casa-se pela segunda vez e trai o marido com um antigo admirador. Experiente e vivida, aqui Inês tira todo o proveito possível da situação que vive. Foco narrativo Não há, do modo tradicional, um narrador; em geral, há rubricas, isto é, anotações à parte da narrativa que servem de orientação para os atores ou para o leitor. São elas que esclarecem, geralmente, as questões de vestimenta, cenário, tempo, posição das personagens etc. As peças de Gil Vicente não trazem rubricas muito específicas. Outra grande característica presente no gênero dramático é a predominância do discurso direto. Como as personagens são representadas concretamente, elas mesmas têm direito à fala, sendo o diálogo o meio usado para criar a trama narrativa. Uma vez que as personagens falam diretamente, Gil Vicente, muito habilmente, soube usar essa artimanha para garantir o humor. Na fala de cada uma encontramos marcas importantes na delimitação de suas características: a ingenuidade de Pero Marques, o descaso e a argúcia de Inês, a malandragem do Escudeiro e daí em diante. Gil Vicente seguiu a Medida Velha, característica da poesia medieval. Todas as falas foram compostas em verso redondilhos maiores, isto é, com sete sílabas poéticas, e sempre rimados. Tempo / Espaço / Ação O tempo representado na peça não é indicado. As cenas vão tendo seqüência não dando a idéia de tempo decorrido entre uma e outra. A única menção feita é do período passado desde que o Escudeiro foi à guerra até a chegada da notícia de sua morte: três meses, segundo o Moço. A maioria das cenas se passa num mesmo espaço especificado apenas como a casa de Inês. Todos os personagens acabam passando por ali. Em alguns momentos, os personagens vêm se preparando no caminho para a casa, como acontece com Pero Marques, o Escudeiro e o Moço. Mas de nenhum desses lugares há indicações cenográficas específicas como descrição do ambiente, iluminação etc. A mesma desatenção aparece com relação aos trajes dos personagens. Apenas Pero Marques tem sua roupa genericamente explicitada: Aqui vem Pero Marques, vestido como filho de lavrador rico, com um gibão azul deitado ao ombro, com o capelo por diante. Personagens Inês Pereira: jovem esperta que se aborrece com o trabalho doméstico. Deseja ter liberdade e se divertir. Sonha casar-se com um marido que queira também aproveitar a vida. Principal personagem da peça. Moça bonita, solteira, pequena-burguesa. Seu cotidiano é enfadonho: passa os dias bordando, fiando, costurando. Sonha casar-se, vendo no casamento uma libertação dos trabalhos domésticos. Despreza o casamento com um homem simples, preferindo um marido de comportamento refinado. Idealiza-o como um fino cavalheiro que soubesse cantar e dançar. Contraria as recomendações maternas rejeitando Pero Marques e casando-se com Brás da Mata, frustra-se com a experiência e aprende que a vida pode ser boa ao lado de um humilde camponês. Inês deixa-se levar pelas aparências e ridiculariza Pero Marques despedindo-o de sua casa para receber Brás da Mata. Casa-se com ele, mas sua vida torna-se uma prisão, ela não pode sair e é constantemente vigiada por um moço. Inês sofre e chega a desejar a morte do marido. Ele morre covardemente na guerra e Inês casa-se com Pero Marques. Ele satisfaz todos os seus desejos e chega até a carregá-la nas costas para um encontro com um amante (sem saber, porém, que era para isso). Mãe de Inês: mulher de boa condição econômica, que sonha casar Inês com um homem de posses. É a típica dona de casa pequeno-burguesa e provinciana. Preocupada com a educação e o futuro da filha em idade de casar. Dá conselhos prudentes, inspirada por uma sabedoria popular imemorial. Chega a ser comovente em sua singela ternura pela filha, a quem presenteia com uma casa por ocasião das núpcias. Leonor Vaz: fofoqueira, encarregava-se normalmente em arranjar casamentos e encontros amorosos. É o esterótipo da comadre casamenteira que sabe seu ofício e dele se desincumbe com desenvoltura. Sabe valorizar seu produto com argumentos práticos de quem tem a experiência e o senso das coisas da vida. Pero Marques: primeiro pretendente de Inês rejeitado por ser grosseiro e simplório, apesar da boa condição financeira. Foi seu segundo marido. Camponês simples, não conhece os costumes das pessoas da cidade. É uma personagem ambígüa, ao mesmo tempo que é ridicularizado pela ingenuidade, é valorizado pela integridade de caráter. Fiel e dedicado, revela se um gentil e carinhoso marido. É tão simples que não sabe para que serve uma cadeira. É teimoso como um asno e diz que não se casará até que Inês o aceite um dia. Latão e Vidal: judeus casamenteiros, assim como Leonor. Os judeus casamenteiros são muito parecidos, têm as mesmas características, na verdade são o mesmo repartido em dois. São a caricatura do judeu hábil no comércio. Faladores, insinuantes, humildes, serviçais e maliciosos, são o estereótipo de que a literatura às vezes se serviu, como, por exemplo, no caso desta peça de Gil Vicente. Brás da Mata: escudeiro, índole má, primeiro marido de Inês. Interesseiro e dissimulado é a representação da esperteza das classes superiores. É um nobre empobrecido que não perde o orgulho e pretende aproveitar-se economicamente de Inês através do dote. Brás da Mata é um escudeiro, isto é, homem das armas que auxiliava os cavaleiros fidalgos. Na mudança do feudalismo para o capitalismo, a maioria permaneceu numa condição subalterna, procurando imitar a aristocracia. Moço: criado de Brás. Pobre coitado, explorado por um amo infame. Humilde, deixa-se explorar e acredita ingenuamente nas promessas do Escudeiro. Cumpre sua obrigação sem ver recompensa, mas é capaz de, em suas queixas, insinuar as farpas com que cutuca o mau patrão. Ermitão: antigo pretendente de Inês e amante depois de seu casamento com Pero. É um falso monge que veste o hábito para conseguir realizar seu propósito de possuir Inês. Fernando e Luzia: amigos e vizinhos da mãe de Inês. Enredo A peça tem início com a entrada de Inês Pereira cantando e fingindo que trabalha em um bordado. Logo começa a reclamar do tédio deste serviço e da vida que leva, sempre fechada em casa. A mãe, ouvindo suas reclamações, aconselha-a a ter paciência. Inês é uma jovem solteira que sofre a pressão constante do casamento. Imagina Inês casar-se com um homem que ao mesmo tempo seja alegre, bem-humorado, galante e que goste de dançar e cantar, o que já se percebe na primeira conversa que estabelece com sua mãe e Leonor Vaz. Essas duas têm uma visão mais prática do matrimônio: o que importa é que o marido cumpra suas obrigações financeiras, enquanto que Inês está apenas preocupada com o lado prazeroso, cortesão. Lianor Vaz aproxima-se contando que um padre a assediou no caminho. Depois de contar suas aventuras, diz que veio trazer uma proposta de casamento para Inês e lhe entrega uma carta de seu pretendente, Pero Marques, filho de lavrador rico, o que satisfazia a idéia de marido na visão de sua mãe. Inês aceita conhecê-lo apesar de não ter se interessado pela carta. Pessoalmente, acha Pero ainda mais desinteressante ainda e recusa o casamento. Sua esperança agora está nos Judeus casamenteiros a quem encomendou o noivo de seus sonhos. Aceita então a proposta de dois judeus casamenteiros divertidíssimos, Latão e Vidal, que somente se interessam no dinheiro que o casamento arranjado pode lhes render, não dando importância ao bem-estar da moça. Então lhe apresentam Brás da Mata, um escudeiro, que mostra-se exatamente do jeito que Inês esperava, apesar das desconfianças de sua mãe. Antes de vir conhecê-la, porém, o tal Escudeiro, na verdade, pretensioso e falido, combina com seu mal-humorado pajem as mentiras que dirá para enganar Inês. O plano dá certo e eles se casam. No entanto, consumado o casamento, Brás, seu marido, mostra ser tirano, proibindo-a de tudo, até de ir à janela. Chegava a pregar as janelas para que Inês não olhasse para a rua. Proibia Inês de cantar dentro de casa, pois queria uma mulher obediente e discreta. Encarcerada em sua própria casa, Inês encontra sua desgraça. Mas a desventura dura pouco pois Brás torna-se cavaleiro e é chamado para a guerra, onde morre nas mãos de um mouro quando fugia de forma covarde. Finalmente em liberdade, a moça não perde tempo.Viúva e mais experiente, fingindo tristeza pela morte do marido tirano, Inês aceita casar-se com Pero Marques, seu antigo pretendente. Aproveitando-se da ingenuidade de Pero, o trai descaradamente quando é procurada por um ermitão que tinha sido um antigo apaixonado seu. Marcam um encontro na ermida e Inês exige que Pero, seu marido, a leve ao encontro do ermitão. Ele obedece colocando-a montada em suas costas e levando Inês ao encontro do amante. Consuma-se assim o tema, que era um ditado popular de que "é melhor um asno que nos carregue do que um cavalo que nos derrube".

A FARSA DE INÊS PEREIRA - GIL VICENTE

A Farsa de Inês Pereira é considerada a mais complexa peça de Gil Vicente. Ao apresentá-la, o teatrólogo português diz: "A seguinte farsa de folgar foi representada ao muito alto e mui poderoso rei D. João, o terceiro do nome em Portugal, no seu Convento de Tomar, na era do Senhor 1523. O seu argumento é que, porquanto duvidavam certos homens de bom saber, se o Autor fazia de si mesmo estas obras, ou se as furtava de outros autores, lhe deram este tema sobre que fizesse: é um exemplo comum que dizem: Mais vale asno que me leve que cavalo que me derrube. E sobre este motivo se fez esta farsa". A obra pode ser dividida em cinco partes: a primeira é um retrato da rotina na qual se insere a protagonista; a segunda reflete a situação da mulher na sociedade da época, cujos registros são dados pela mãe de Inês, pela própria Inês e por Lianor Vaz; a terceira mostra o comércio casamenteiro, representado pelos judeus comerciantes e pelo arranjo matrimonial-mercantil de Inês com Brás da Mata; a quarta considera o casamento, o despertar para a realidade, contrapondo-a ao sonho que embalava as fantasias da protagonista e, finalmente, a quinta parte reflete a realidade brutal da qual Inês, experiente e vivida, procura tirar proveito próprio. A peça apresenta uma situação concreta, com uma personagem bem delineada psicologicamente e um fio condutor melhor configurado que as produções anteriores de Gil Vicente. O enredo é simples: uma jovem sonhadora procura, por meio do casamento com um homem que saiba tanger viola, fugir à rotina doméstica. Despreza a proposta de Pero Marques, filho de um camponês rico, homem tolo e ingênuo, e aceita se casar com Brás da Mata, escudeiro pelintra e pobretão. No entanto, os sonhos da heroína são logo desfeitos, porque o marido revela sua verdadeira personalidade, maltratando-a e explorando-a. Brás da Mata vai para a África e lá vem a falecer. Inês, ensinada pela dura experiência, toma consciência da realidade e aceita se casar com Pero Marques, seu primeiro pretendente. Depressa também a jovem aceita a corte de um falso ermitão. A farsa termina com o marido (cantado por ela como cuco, gamo e cervo, tradicionalmente concebidos como símbolos do homem traído) levando-a às costas (asno que me carregue) até a gruta em que vive o ermitão, para um encontro nada ingênuo.

sábado, 22 de fevereiro de 2014

TEXTO PARA ANÁLISE p.510

1- “a verdade nua manda dizer que entre as raças de variado matiz, formadoras da nacionalidade e metida entre o estrangeiro recente e o aborígine de tabuinha no beiço, uma existe a vegetar de cócoras, incapaz de evolução, impenetrável ao progresso. Feia e sorna, nada a põe de pé”. O narrador não acredita que a mistura de raças que formou a nossa nacionalidade tenha gerado uma raça forte e heroica. Para ele, o caboclo representa uma raça fraca, constituída por preguiçosos, que existem “a vegetar de cócoras”, simbolizando o que há de mais atrasado no Brasil. 2-a) Nos romances, segundo o narrador, o Jeca é apresentado como um mercador, um lavrador e um filósofo. b) Uma figura preguiçosa, que vive e vegeta de cócoras, sem que nada desperte o seu interesse e o leve a agir. Valendo-se da lei do mínimo esforço,o Jeca alimenta-se apenas do que a natureza lhe oferece e é alheio a tudo que se passa à sua volta. 3- PESSOAL: a imagem do caboclo como um “parasita” (urupê) que extrai da terra o que ela tem a oferecer até esgotá-la pode ser derivada de uma visão preconceituosa, mas reflete, de alguma forma, a denúncia de um Brasil do atraso até então desconhecido. 4- Ao combater a imagem idealizada que se criou do caboclo, à semelhança daquela que caracterizou o indígena romântico, a crítica feita no texto revela o desejo de mostrar a realidade brasileira na figura que a representa: o caboclo que habita as paisagens interioranas no ciclo do café.

TEXTO PARA ANÁLISE - p.507

1- Quando é preso e condenado, Policarpo Quaresma percebe que se iludiu em relação ao seu país e seu povo. Na reflexão amargurada de sua trajetória,passa a ter consciência real do Brasil, de seus problemas e do mito a que se apegou em seu amor pela nação. Segundo Policarpo, o seu patriotismo o levara a estudar “inutilidades” sobre a pátria (conhecia os rios, sabia os nomes dos heróis do país, aprendeu o tupi-guarani, valorizou o folclore nacional), a fazer incursões na agricultura e a lutar pela nação. 2- Policarpo idealizava a doçura do povo brasileiro. Ao participar da Revolta da Armada, percebeu que se tratava de uma ilusão que nutria a respeito da pátria e seus habitantes: no conflito, viu-os “combater como feras” e matarem “prisioneiros, inúmeros”. 3- Policarpo imagina que, se outros seguissem seus passos, poderiam ser mais felizes e desfrutar de uma pátria como a que ele sonhou. A esperança se desfaz porque o conhecimento que adquirira ao longo de sua vida não seria transmitido a ninguém, já que não tivera seguidores e não havia divulgado o que aprendera. Essa constatação é motivo para intensificar sua angústia. Policarpo reflete, de forma amargurada, que, se seu ideal e conhecimento permanecessem, provavelmente não serviriam para nada, já que outros tinham morrido e se sacrificado pela pátria e, mesmo assim, a terra permanecia “na mesma miséria, na mesma opressão, na mesma tristeza” 4- A transformação por que passa Policarpo, que vai do ufanismo à consciência crítica, simboliza a mudança que se opera na literatura brasileira: a visão de pátria idealizada, herdada do Romantismo, para a reflexão da realidade de forma crítica

TEXTO PARA ANÁLISE - p.504

1- “Os combatentes contemplavam-nos entristecidos. Surpreendiam-se; comoviam-se." " Custava-lhes admitir que toda aquela gente inútil e frágil...bombardeados entre outros... Comoção e tristeza dos soldados diante dos prisioneiros. sentem vergonha diante da vitória que conquistaram. Não. Todo trecho é marcado pela subjetividade.O relato descreve de um ponto de vista pessoal o impacto que a rendição daquelas pessoas causa nos soldados. Assim, o relato se distancia da objetividade que caracterizaria o simples retrato da situação apresentada , para se transformar na tradução “humana” da tragédia em que a luta tinha se convertido. 2- Eles são apresentados como uma “legião desarmada, mutilada, faminta e claudicante”. São mulheres, crianças e velhos debilitados pelo conflito e marcados pela magreza, pela miséria, pela dor. Os vencidos parecem uma procissão de infelizes que trazem no rosto e no corpo as marcas da violência indescritível do conflito: um “longo enxurro de carcaças e molambos". a) O relato denuncia a realidade que determina o conflito de Canudos e torna o massacre dos rebeldes ainda mais terrível. A caracterização daqueles que viviam em Canudos dá a exata dimensão do desconhecido sertão: uma sociedade miserável e arcaica, ignorada pelas regiões mais desenvolvidas e urbanas, com uma população analfabeta e desnutrida, que poderia ser facilmente conduzida por líderes religiosos como Antônio Conselheiro.Esse era um Brasil de mazelas que precisava ser conhecido pelas elites brasileiras e integrado à nacionalidade. b) É a descrição da criança, carregada por uma velha, cujo rosto teve a face esquerda arrancada pelo estilhaço de uma granada.Segundo o texto, aquela era “a criação mais monstruosa da campanha”. 3- a) A estrutura paralelística, marcada pela apresentação dos termos “mulheres”, “crianças” e “velhos”, retomados depois da repetição o dos termos “sem-número”, intensifica a sensação de que aquela guerra era um combate desumano e vergonhoso contra pessoas que não tinham como se defender.O texto acaba por enfatizar, pela força da repetição, a monstruosidade daquele conflito cujos prisioneiros formavam uma procissão de “infelizes” que chocavam pelo estado de miséria e desamparo. b) O texto destaca, nas mulheres, a velhice: moças e velhas se igualam na procissão de infelizes que caminham. Em todas elas, a marca do sofrimento e da miséria se traduz na aparência envelhecida e na “fealdade”. Outro elemento as caracteriza: os filhos, que são muitos e são apresentados quase como parte integrante dessas mulheres (estão “escanchados nos quadris”, encarapitados às costas”, “suspensos aos peitos murchos” ou são “arrastados pelos braços”). 4- A divisão revela uma concepção determinista, característica do século XIX (usada principalmente pela literatura Naturalista), que defende que o homem é fruto do meio, da raça e das condições históricas.Na primeira parte, “A Terra”, analisa-se o meio. Na segunda, descreve-se a raça. A partir da combinação desses fatores, tenta-se uma explicação para o conflito de Canudos. O tema regionalista já havia sido abordado pelos românticos de forma descritiva, idealizada e sentimental. Os sertões, pela primeira vez, trata uma região, o Nordeste, de maneira crítica, apontando seus problemas característicos: a seca, a miséria, as condições difíceis de sobrevivência , o atraso social e o abandono a que os sertanejos estavam relegados pelas elites dos centros urbanos do Brasil.

TRISTE FIM DE POLICARPO QUARESMA : UMA ANÁLISE LITERÁRIA E UMA ANÁLISE CRÍTICA

http://www.passeiweb.com/estudos/livros/triste_fim_de_policarpo_quaresma http://educacao.uol.com.br/disciplinas/portugues/triste-fim-de-policarpo-quaresma-analise-da-obra-de-lima-barreto.htm

A NOVA CALIFÓRNIA, DE LIMA BARRETO

PARA QUEM QUISER LER O CONTO NA ÍNTEGRA E DESCOBRIR SE OS OSSOS VIRARAM OURO.. http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=16813

TEXTO PARA ANÁLISE - p.500

1- Cidade pacata, com poucos habitantes, na qual não se registrava roubo ou furto havia cinco anos. Uma cidade de cotidiano tão tranquilo, só poderia reagir com indignação e espanto diante da profanação dos túmulos do cemitério. 2- A possibilidade de que seu túmulo também fosse profanado depois de sua morte.O preconceito é revelado pelo desprezo que a moça tinha pelo lugarejo simples e pela referência repleta de desdém à origem humilde daqueles que tiveram seus túmulos profanados, além da indiferença demonstrada pelo destino de seus ossos.Para a jovem aquelas pessoas não significavam nada. Que tinha ela com o túmulo de antigos escravos e humildes roceiros? Em que podia interessar... nas calçadas do Rio. 3- A indignação das pessoas é imediatamente substituída pela ambição e pela esperança de enriquecer transformando os "míseros despojos fúnebres" em "alguns contos de réis".O horror inicial é rapidamente esquecido e os habitantes passam a visualizar a felicidade que poderiam alcançar e os problemas que poderiam resolver com essa descoberta.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

domingo, 16 de fevereiro de 2014

PRÉ-MODERNISMO : RESUMO DE ALGUMAS OBRAS

ATENÇÃO: OS TEXTOS NÃO SEGUEM O NOVO ACORDO ORTOGRÁFICO LEMBRE-SE DE QUE O RESUMO NÃO SUBSTITUI A LEITURA INTEGRAL DE UMA OBRA! OS SERTÕES Euclides da Cunha O imenso cenário sertanejo é o destaque inicial da obra: "o planalto central do Brasil desce, nos litorais do Sul, em escarpas inteiriças, altas e abruptas. Assoberba os mares; e desata-se em chapadões nivelados pelos visos das cordilheiras marítimas, distendidas do Rio Grande a Minas". Aos poucos, essa paisagem é particularizada, apontando os destinos entrecruzados de homens terras, ares, água, árvores e bichos. A seguir, o autor aborda o clima sertanejo, que é indefinível porque "nenhum pioneiro da ciência suportou ainda as agruras daquele rincão (...), em prazo suficiente para o definir". Durante o dia prevalecem altas temperaturas, torrando tudo, e, à noite, ela cai abruptamente, enregelando a terra. A secura atmosférica no sertão é tanta que atua como uma estufa, secando tudo. A seca faz parte da vida do habitante dessa região, o sertanejo, que, sem temê-la, munido de fé, esperança e serenidade, enfrenta-a. A caatinga, celeiro da seca, agride o viajante com seus espinhos e folhas urticantes, mas, quando não há mais nada, é de lá que o homem extrai os mandacarus para iludir seu gado, e também os mangarás das bromélias selvagens para alimentar os filhos. Chega um ponto que não resiste mais e parte em retirada, mas tão logo o flagelo acaba, lá está ele de volta, morto de saudades do sertão. Homem permanente fatigado, o sertanejo "reflete a preguiça invencível, a atonia muscular perene, em tudo: na palavra remorada, no gesto contrafeito, no andar desaprumado, na cadência langorosa das modinhas, na tendência constante à imobilidade e à quietude". Todavia, basta um incidente qualquer para que ele se transfigure, adquirindo, subitamente, a característica de um "titã dominador": "a cabeça firma-se-lhe, alta, sobre os ombros possantes, aclarada pelo olhar desassombrado e forte". Apesar disso, é crédulo, místico, deixando-se levar por superstições absurdas. Sua religião traz em si, caracteres das três raças que o formaram: o branco, o índio e o negro; como ele, sua religião é mestiça. Após ocupar-se do clima e do sertanejo, o autor se volta para a figura de Antonio Vicente Mendes Maciel, conhecido por todos como Antonio Conselheiro. Este cearense de Quixeramobim, personagem principal do episódio de Canudos, era de família de negociantes com algumas posses. Foi um jovem tímido, sempre às voltas com os negócios do pai. Quando este morre, toma para si a tarefa abnegada de cuidar das três irmãs solteiras. Uma desilusão amorosa parece ser a responsável pela virada que dá na vida. Conta-se que sua mulher o trocou por um policial. Envergonhado, o infeliz foge da cidade, escondendo-se no sertão.Passa a vagar de vila em vila. De cabelo e barba longos, vive de esmolas, agregando pessoas para junto de si. Como os profetas, passa a carregar um cajado e a usar túnica larga de brim azul, sandálias e chapéu de abas largas. Assim, acaba se tornando "o evangelizador monstruoso, mas autômato". Sempre acompanhado de um grande séqüito, ajuda os necessitados, repara ou constrói igrejas nos vilarejos carentes; para ele, os adeptos são "seus irmãos" e estes, por sua vez, chamam-no de "meu pai". Tinha horror às mulheres, vendo na sua beleza a face tentadora de Satã, falava-lhes de costas; agia assim até com as velhas beatas. O autor passa a descrever o estilo do pregador. Sem muitos gestos, a oratória de Antonio Conselheiro era "bárbara e arrepiante"; cheia de frases de efeito e citações, muitas vezes desconexas, de conselhos dogmáticos, confusos e de profecias esquisitas. Seus olhos, negros e vivos, tinham um brilho ofuscante que ninguém ousava contemplar. "A multidão sucumbida abaixava (...) as vistas, fascinada, sob o estranho hipnotismo daquela insânia formidável". Tendo como lema: "bem-aventurados os que sofrem", pregava apenas práticas religiosas tradicionais do sertão: jejuns prolongados, provações, martírios e procissões de penitência, através de longas e extenuantes caminhadas. Mesmo assim, o Conselheiro não era bem visto pela igreja que o considerava louco. Esta já solicitara ao governo do império a internação do beato, em um asilo para doentes mentais, mas como não havia vaga, nada foi feito. O Conselheiro, espécie de grande homem pelo avesso, seguia "sem tropeços na missão "pervertedora", avultando na imaginação" e crença popular. Outra característica em destaque é a de que o beato era extremamente conservador e contra o regime republicano. Para ele, a nova república - o anticristo, a ordem de satanás - separara a igreja do Estado, instituindo, entre outras coisas, o casamento civil que lhe tirava a primazia de celebrar casamentos. Conforme o relato, o primeiro confronto de seus seguidores com a polícia se deu quando incitou os habitantes de um pequeno vilarejo a não pagar impostos instituídos pelo novo regime. Após o choque violento, resultando em mortos de ambos os lados, o Conselheiro, que percorrera o sertão numa romaria ininterrupta de vinte anos, decidiu parar, escolhendo uma fazenda abandonada, onde, longe do governo, pudesse praticar, com seu povo, sua religião. Nascia Canudos, fundada imediatamente por milhares de taperas de pau-a-pique, ao redor da praça central, onde começaram a construir uma grande igreja, faceando uma outra, de tamanho menor, pertencente à antiga fazenda. Com as duas igrejas na praça central, Canudos logo tomou ares de arraial. Com o passar do tempo, a vila, que estava aberta a todos, passou a ter uma população constituída dos mais diversos tipos: do matuto crédulo, vaqueiro iludido ao jagunço errante, forte e destemido. Todos eram bem vindos, pois neles estava a força do arraial. Essa gente despojava-se de tudo, aceitando, cegamente, o que vinha do beato, senhor e lei naquele deserto. O uso de cachaça, por exemplo, era rigorosamente punido. O estupro, não. "Não é para admirar que se esboçasse logo, em Canudos, a promiscuidade (...). Porque o dominador, se não estimulava, tolerava o amor livre". Para os crentes que ali paravam, Canudos era o cosmos, um ponto de passagem transitório "na romaria miraculosa para os céus". Em Juazeiro, correu um boato que os jagunços do conselheiro iriam atacar a cidade por causa do atraso na entrega da madeira para a igreja nova do arraial. Para tranqüilizar a população, que já se pusera em alvoroço, o governador decide enviar a Canudos, em missão punitiva, 104 homens, chefiados pelo tenente Pires Ferreira. Como Antonio Conselheiro tinha homens - espiões - em todos os lugares, ficaram sabendo da expedição e resolveram preparar-lhe uma cilada, antes de chegar ao arraial. Isso ocorreu no povoado de Uauá, onde os soldados tinham parado. Disfarçados de penitentes, em uma imensa procissão de flagelados, carregando à frente uma cruz e o estandarte do Divino, os homens do batalhão do beato, armados de paus, facões, foices, pedras e velhas espingardas, foram em cima dos soldados, numa luta corpo-a-corpo feroz. Depois de algumas horas de combate sangrento, os jagunços puseram os soldados para correr, mesmo tendo mais perdas do que o inimigo. Com o fracasso da primeira expedição, uma segunda foi organizada, desta vez com mais de 500 homens, chefiados pelo major Febrônio de Brito. Antes de seguir caminho para Canudos, ficaram baseados em Monte Santo, durante quinze dias. Conhecida pela via sacra ao topo do monte, o vilarejo, ao sul de Canudos, transformou-se. Para os habitantes, acostumados a receber apenas romeiros em penitência, com o batalhão de Febrônio, a pacata cidade tomou ares de festa. Como da primeira vez, os aliados do Conselheiro levaram notícias da expedição aos homens do arraial, que resolveram surpreendê-los em emboscada, quando estivessem nos morros próximos de Canudos. Assim fizeram e, em apenas dois dias, venceram a batalha, afugentando os adversários cansados e despreparados para enfrentar o sertão. Essa derrota foi motivo para fantasiarem o real e o beato se torna questão nacional. Dizia-se que, sob disfarce do fanatismo religioso, Canudos representava, na verdade, uma reação monarquista, com adeptos em todo o país e, quiçá, no exterior. A terceira expedição foi preparada. Desta vez, era mais poderosa, com quatro canhões e 1300 homens, comandados por Moreira César. Esse comandante era famoso pela autoconfiança, coragem e também pelo temperamento impulsivo e instável. Traços que podem ter a ver com sua doença: epilepsia. Durante a campanha, sofre ataque epilético e comete dois erros estratégicos. No primeiro, ignora a caminhada, longa e extenuante, feita pelos soldados, que famintos e sedentos, são obrigados a atacar arraial. No segundo, imprudentemente, ordena estes mesmos soldados a lutarem corpo-a-corpo com os adversários, complicando a movimentação da tropa, perdida na rede de ruas labirínticas do arraial, inviabilizando a ação da artilharia que, se atirasse, poderia ferir os amigos. A situação dos soldados se complicava gradativamente. De repente, saindo de sua posição e dizendo que daria brio àquela gente, Moreira César rumou, corajosa e inconseqüentemente, para linha de fogo na direção do arraial, mas foi logo ferido, morrendo à noite. Na hierarquia, o próximo comandante seria o coronel Pedro Nunes Tamarindo que, desde o começo, discordara da atuação de Moreira César. Vendo aquela tropa toda desarticulada, deseja fugir, derrotado. Quando um soldado chama-o para assumir sua posição diz: "é tempo de murici, cada um cuide de si". Entretanto, mais tarde, é baleado na fuga. Os soldados, por sua vez, largando tudo, até o cadáver de Moreira César, saem em debandada. Os conselheiristas ficam com todo armamento abandonado e decapitam alguns soldados mortos, colocando as cabeças na estrada. O fracasso dessa expedição e a morte do corajoso Moreira César deram à imprensa motivos para criar histórias sobre os monarquistas e contra a grande ameaça à pátria - o arraial. Esses fatos demandavam outra expedição. De um bom número de estados do Brasil, foram recrutados mais de 5.000 homens. Para chefiá-los, convocaram o general Artur Oscar de Andrade Guimarães. Além disso, as tropas seriam divididas em colunas. Duas ficariam baseadas em Monte Santo, enquanto a outra, comandada pelo general Cláudio Savaget sairia de Aracaju. A primeira trazia consigo um imenso e pesado canhão, apelidado de "matadeira" pelos sertanejos. Como as tropas anteriores, a primeira coluna foi surpreendida em uma emboscada no Morro da Favela, atrapalhando-se e logo se desarticulando. O exército disparava para o arraial, enquanto, entrincheirados nos morros, os rebeldes insurgentes revidavam, deixando um saldo de mortos e feridos dos dois lados. A primeira coluna foi salva, graças à chegada de Savaget com seu segundo batalhão. Após um dia exaustivo de luta feroz e sangrenta, ao anoitecer, os soldados largavam as armas, para então ouvir, no silêncio desolador das noites sertanejas, as longínquas e agourentas rezas e cânticos dos inimigos. Os praças passaram um mês entre os jagunços do beato, o desânimo e a fome, morrendo, na maioria das vezes, em busca do que comer. Entre mortos e feridos, aproximadamente 900 estavam fora de combate. Os feridos foram escoltados por "praças de infantaria até o extremo sul da zona perigosa, Juá". Sem recursos e combalidos, enfrentavam a longa caminhada sob o sol inclemente da caatinga. Outra intervenção do governo reuniu 3.000 homens em Monte Santo sob o comando do Ministro da Guerra, Marechal Carlos Machado de Bittencourt. Para ele, cansaço, sede e fome, enfrentados pelos praças no trajeto causticante de Monte Santo a Canudos, foram a causa do fracasso das missões anteriores. A questão não era quantidade de homens e, sim, de mulas para transportar alimento e água para os soldados, entrincheirados próximos do arraial. Na sua opinião, "mil burros mansos valiam, na emergência, por dez mil heróis". A partir das primeiras levas de bestas, enviadas por ele ao campo de guerra, as tropas começaram a vencer. A igreja matriz foi bombardeada e destruída, ocorrendo assim o cerco, os incêndios e a destruição de Canudos, tomada no dia 5 de outubro de 1897, quando seus quatro últimos defensores, resistindo sem se render, morreram diante de milhares de soldados enfurecidos. Destruíram 5.200 casas, "cuidadosamente contadas", e com elas milhares de pessoas foram mortas. Dentre elas, os jagunços: João Abade, Pajeú, Pedrão, homens de confiança do Conselheiro, e os acólitos religiosos do beato: José Beatinho, Paulo José da Rosa, Timotinho, o sineiro, que caiu junto com a torre da igreja. Deu-se então o massacre dos prisioneiros, na sua maioria mulheres, velhos, pessoas enfermas, moribundos e crianças. As mulheres não perigosas e as crianças foram poupadas da "degola", que deveria ocorrer após um viva à República. Mas, sabendo da morte próxima, os prisioneiros davam vivas ao Conselheiro. Este não resistiu à uma grave disenteria, e aos problemas resultantes de um ferimento de granada, falece no dia 22 de setembro. Segundo o autor, na campanha de Canudos, pairava um dualismo incoerente, em que "a selvageria impiedosa amparava-se à piedade pelos companheiros mortos". A campanha não cumpria as leis, vingava-se. A "degola", punição infinitamente mais prática, segundo a ideologia local, foi feita aleatoriamente, porque contavam com a impunidade. O sertão é o esconderijo. "Quem lhe rompe as trilhas, ao divisar à beira da estrada a cruz sobre a cova do assassinado, não indaga do crime. Tira o chapéu, e passa". Canudos, cercado de montanhas, "era um parênteses; era um hiato. Era um vácuo. Não existia. Transposto aquele cordão de serras, ninguém mais pecava". O cadáver do Conselheiro é exumado e fotografado para que "o país se convencesse bem de que estava afinal extinto aquele" terrível mal. Num gesto rotineiro, decapitaram-no e enviaram o crânio hediondo a Salvador, para "que a ciência dissesse a última palavra". CANAÃ Graça Aranha Milkau, alemão, recém-chegado, o a uma colônia de imigrantes europeus, no Espírito Santo, aluga um cavalo para ir do Queimado à cidade de Porto do Cachoeiro. Junto com ele vai o guia, um menino de 9 anos, filho de um alugador de animais, no Queimado. O imigrante observa a paisagem e, ao passar por uma fazenda abandonada, entregue aos poucos e pobres escravos, nota o ritmo daquela gente desamparada. Finalmente, chega ao sobrado do comerciante alemão, Roberto Schultz, em Cachoeiro. Na parte inferior do edifício fica o armazém, onde é negociada toda sorte de produtos, desde fazenda até instrumentos agrícolas. É apresentado a outro imigrante, von Lentz, filho de um general alemão. Milkau deseja arrematar um lote de terra para se estabelecer. Schultz apresenta-lhe o agrimensor, Sr.Felicíssimo, que está para ir ao Rio Doce fazer medições de terra. Milkau, desejando aí se estabelecer, decide se juntar ao agrimensor e convida o indeciso Lentz para acompanhá-lo. Pelo caminho, Lentz e Milkau discutem a paisagem e a raça brasileiras. Milkau crê que o progresso só se dá quando os povos se misturam. Vê, na fusão das raças adiantadas com as selvagens, o rejuvenescimento da civilização. Enquanto acredita na humanidade, pensa encontrar no Brasil Canaã, "a terra prometida". Lentz só se ocupa da superioridade germânica, ficando enaltecido com o triunfo dos alemães sobre os mestiços. Para ele, a mistura gera uma cultura inferior, uma civilização de mulatos que serão sempre escravos e viverão em meio a lutas e revoltas. Acrescenta que está no Brasil, porque o estava forçando a se casar com a filha de um general, amigo do pai. Preferiu começar vida nova, longe dos deveres e obrigações impostos por sua sociedade. Milkau conta-lhe que também não encontrava graça no viver, ansiava por uma vida mais independente, em que pudesse dar vazão à sua individualidade. À noite, reúnem-se a Felicíssimo e ouvem de alguns homens da terra e dos trabalhadores alemães lendas, evocando o Reno e despertando saudades. Os planos dos dois imigrantes diferem; Milkau deseja manter seu pedaço de terra e anseia por uma justiça perfeita sem ganâncias ou lutas. Lentz está determinado a ampliar sua propriedade, ter muitos trabalhadores sob seu comando. Sonha com o domínio do branco sobre o mulato, numa confirmação de seu poder. Após as medidas tomadas por Felicíssimo, Milkau pode levantar sua casa e Lentz deixa-se ficar, triste e angustiado, incapaz de abandonar o companheiro, dedicando-se às viagens e compras da casa. No trajeto, encontra-se sempre com um velho colono alemão taciturno, em companhia de seus cães ferozes, mas fiéis. Mais tarde, encontrará esse velho morto em casa, guardado pelos animais e devorado pelos urubus. Um dia, ao retornar de Santa Teresa, Lentz traz a notícia de que, em Jequitibá, o novo pastor vai celebrar seu primeiro serviço. Os colonos preparam uma festa e Milkau resolve juntar-se a eles como forma de se familiarizar com os costumes do povo. Pelo caminho, os amigos encontram famílias inteiras de colonos. As mulheres se vestem com o modelo usado na partida para a nova terra, sendo possível fixar, pelo vestuário, a época de cada imigração. Felicíssimo os convida para, depois do culto, festejarem no sobrado de Jacob Müller. Ouvem música e vêem o povo dançando. Milkau diz a Lentz que era isso o que buscava: uma vida simples em meio à gente simples, matando o ódio e esquecendo da dor. Os homens de outras terras estavam possuídos pelo demônio, devastando o mundo. Lentz vê em tudo aquilo uma existência vazia e inútil. Milkau conhece, nesse dia, no sobrado de Müller, uma colona, Maria Perutz, que não consegue mais esquecer o encontro com o rapaz. A história de Maria é triste e solitária. O pai morreu antes que ela pudesse conhecê-lo. A mãe viúva, criada da casa do alemão Augusto Kraus, logo falece e Maria fica sob os cuidados de Augusto, seu verdadeiro amigo. Moravam com o velho, seu filho, a nora Ema e o neto, Moritz Kraus. Repentinamente, Kraus falece e a situação na casa de Maria se modifica. Ema e o esposo decidem separar a moça do filho, temendo uma aproximação amorosa. A família quer ver Moritz casado com a rica Emília Schenker e o enviam para longe de Jequitibá. O rapaz parte com certa alegria, deixando Maria desgostosa, pois os dois já eram amantes. Franz Kraus é procurado por um Oficial de Justiça que, desejando saber porque a morte do velho não foi notificada, passa-lhe um documento sobre a necessidade de arrolamento dos bens de Augusto Kraus. Solicita que lhe prepare alojamento e comida para cinco pessoas, pois darão plantão em sua casa, recebendo todos os que estiverem na mesma situação de Franz. O grupo se instala na casa e passa a chamar os colonos, amedrontando-os com extorsões e violências. Após a visita, cobram de Franz Kraus a alta importância de quatrocentos mil réis, além de demonstrarem certo interesse em Maria, notadamente o procurador Brederodes. Kraus sente-se ultrajado e roubado. A vida de Maria por essa época piora. Dia-a-dia, teme que seu estado se revele, por isso aguarda desesperadamente o retorno de Moritz para lhe contar sobre o filho que espera. Os pais do rapaz não tardam perceber o que se passa. Vendo-a mover-se pela casa languidamente, sentem ódio e temem pelo casamento do filho. Passam o dia a cochichar, a tramar para se verem livres dela. Tratam-na com mais rigor, não lhe dão quase comida, dobram-lhe os trabalhos. Resignada, Maria resiste para desespero dos velhos. Uma manhã, trêmula e exausta deixa cair um prato. Encolerizada, Ema grita para que ela abandone a casa. O marido ameaça-lhe com um pedaço de madeira. Amedrontada, arruma uma trouxa e sai. Pede auxílio ao pastor, mas esse, dominado pela cunhada, docemente afasta Maria que parte para a vila em busca de abrigo. Ao verem a triste figura, os colonos tomam-na por louca, enxotando-a. Na floresta, seu único refúgio, cai prostrada e adormece. No dia seguinte, encontra uma estalagem, onde empenha a trouxa de roupa em troca de comida e abrigo. A dona do estabelecimento lhe dá dois dias para encontrar um emprego, mas a busca é em vão. Certo dia, na hora do almoço, Milkau reconhece Maria na estalagem. Ao saber de sua história, prontifica-se a ajudá-la, levando-a para a casa de uns colonos. A moça é aceita, mas tratada com desdém. Um dia, trabalhando, solitariamente, no cafezal, começa a sentir as dores do parto. Temendo retornar à casa e ser maltratada, resiste até cair e, esvaindo-se em sangue, dá luz ao bebê. Alguns porcos, que estavam nas proximidades, correm para lambê-los, mordendo o bebê que falece. A filha dos patrões chega nesse instante e, sem nada perguntar, volta à casa, dizendo que Maria tinha matado o bebê e dado a criança aos porcos. Dois dias depois, Perutz estava presa na cadeia de Cachoeiro. A população germânica, horrorizada com o crime de Maria, prepara-se para a vingança e o exemplo. Roberto Shultz procura os mesmos representantes da Justiça que amedrontaram e extorquiram os colonos, durante o arrolamento de bens. Pede-lhes que deixem a punição da mãe assassina para os alemães. O procurador Brederodes, ignorado por Maria na época, insiste em puni-la para que aprenda a não ser tão orgulhosa. Chama todos os alemães de hipócritas e parte, deixando Shultz desmoralizado. Milkau fica sabendo do destino de Perutz e o encontro com ela em Cachoeiro choca-o. Maria tinha a face lívida e os olhos cintilantes dançavam ao sabor da loucura. Volta a vê-la dias seguidos, passando a ser olhado com desprezo e desconfiança, pois, talvez, fosse o amante. Repelido pelos moradores, resigna-se com a condição de inimigo, permanecendo ao lado de Maria. Certa manhã, estando em companhia de Felicíssimo, Milkau encontra Maria, sendo levada por dois soldados para o tribunal. Em cada fase do julgamento, é apontada culpada. Milkau acompanha todas as sessões, chegando a ficar amigo do juiz Paulo Maciel. Este lhe diz que o final não será feliz, pois os depoimentos não deixam brecha para a inocência. O imigrante e Maciel aproveitam os encontros para analisar a justiça brasileira, os brasileiros e seu patriotismo. A avaliação não é das melhores. O juiz impossibilitado de fazer justiça por uma série de circunstâncias observa que a decadência ali existente é um "misto doloroso de selvageria dos povos que despontam para o mundo, e do esgotamento das raças acabadas. Há uma confusão geral". Milkau crê que se pode chegar a algo melhor. Entretanto, à medida que acompanha o definhar da amiga, vai se deixando tomar pela tristeza. Finalmente, numa noite, Milkau tira Maria da prisão e foge com ela, correndo pelos campos em busca de Canaã, "a terra prometida", onde os homens vivem em harmonia. TRISTE FIM DE POLICARPO QUARESMA Lima Barreto O funcionário público Policarpo Quaresma, nacionalista e patriota extremado, é conhecido por todos como major Quaresma, no Arsenal de Guerra, onde exerce a função de subsecretário. Sem muitos amigos, vive isolado com sua irmã Dona Adelaide, mantendo os mesmos hábitos há trinta anos. Seu fanatismo patriótico se reflete nos autores nacionais de sua vasta biblioteca e no modo de ver o Brasil. Para ele, tudo do país é superior, chegando até mesmo a "amputar alguns quilômetros ao Nilo" apenas para destacar a grandiosidade do Amazonas. Por isso, em casa ou na repartição, é sempre incompreendido. Esse patriotismo leva-o a valorizar o violão, instrumento marginalizado na época, visto como sinônimo de malandragem. Atribuindo-lhe valores nacionais, decide aprender a tocá-lo com o professor Ricardo Coração dos Outros. Em busca de modinhas do folclore brasileiro, para a festa do general Albernaz, seu vizinho, lê tudo sobre o assunto, descobrindo, com grande decepção, que um bom número de nossas tradições e canções vinha do estrangeiro. Sem desanimar, decide estudar algo tipicamente nacional: os costumes tupinambás. Alguns dias depois, o compadre, Vicente Coleoni, e a afilhada, Dona Olga, são recebidos no melhor estilo Tupinambá: com choros, berros e descabelamentos. Abandonando o violão, o major volta-se para o maracá e a inúbia, instrumentos indígenas tipicamente nacionais. Ainda nessa esteira nacionalista, propõe, em documento enviado ao Congresso Nacional, a substituição do português pelo tupi-guarani, a verdadeira língua do Brasil. Por isso, torna-se objeto de ridicularizarão, escárnio e ironia. Um ofício em tupi, enviado ao Ministro da Guerra, por engano, levá-o à suspensão e como suas manias sugerem um claro desvio comportamental, é aposentado por invalidez, depois de passar alguns meses no hospício. Após recuperar-se da insanidade, Quaresma deixa a casa de saúde e compra o Sossego, um sítio no interior do Rio de Janeiro; está decidido a trabalhar na terra. Com Adelaide e o preto Anastácio, muda-se para o campo. A idéia de tirar da fértil terra brasileira seu sustento e felicidade anima-o. Adquire vários instrumentos e livros sobre agricultura e logo aprende a manejar a enxada. Orgulhoso da terra brasileira que, de tão boa, dispensa adubos, recebe a visita de Ricardo Coração dos Outros e da afilhada Olga, que não vê todo o progresso no campo, alardeado pelo padrinho. Nota, sim, muita pobreza e desânimo naquela gente simples. Depois de algum tempo, o projeto agrícola de Quaresma cai por terra, derrotado por três inimigos terríveis. Primeiro, o clientelismo hipócrita dos políticos. Como Policarpo não quis compactuar com uma fraude da política local, passa a ser multado indevidamente.O segundo, foi a deficiente estrutura agrária brasileira que lhe impede de vender uma boa safra, sem tomar prejuízo. O terceiro, foi a voracidade dos imbatíveis exércitos de saúvas, que, ferozmente, devoravam sua lavoura e reservas de milho e feijão. Desanimado, estende sua dor à pobre população rural, lamentando o abandono de terras improdutivas e a falta de solidariedade do governo, protetor dos grandes latifundiários do café. Para ele, era necessária uma nova administração. A Revolta da Armada - insurreição dos marinheiros da esquadra contra o continuísmo florianista - faz com que Quaresma abandone a batalha campestre e, como bom patriota, siga para o Rio de Janeiro. Alistando-se na frente de combate em defesa do Marechal Floriano, torna-se comandante de um destacamento, onde estuda artilharia, balística, mecânica. Durante a visita de Floriano Peixoto ao quartel, que já o conhecia do arsenal, Policarpo fica sabendo que o marechal havia lido seu "projeto agrícola" para a nação. Diante do entusiasmo e observações oníricas do comandante, o Presidente simplesmente responde: "Você Quaresma é um visionário". Após quatro meses de revolta, a Armada ainda resiste bravamente. Diante da indiferença de Floriano para com seu "projeto", Quaresma questiona-se se vale a pena deixar o sossego de casa e se arriscar, ou até morrer nas trincheiras por esse homem. Mas continua lutando e acaba ferido. Enquanto isso, sozinha, a irmã Adelaide pouco pode fazer pelo sítio do Sossego, que já demonstra sinais de completo abandono. Em uma carta à Adelaide, descreve-lhe as batalhas e fala de seu ferimento. Contudo, Quaresma se restabelece e, ao fim da revolta, que dura sete meses, é designado carcereiro da Ilha das Enxadas, prisão dos marinheiros insurgentes. Uma madrugada é visitado por um emissário do governo que, aleatoriamente, escolhe doze prisioneiros que são levados pela escolta para fuzilamento. Indignado, escreve a Floriano, denunciando esse tipo de atrocidade cometida pelo governo. Acaba sendo preso como traidor e conduzido à Ilha das Cobras. Apesar de tanto empenho e fidelidade, Quaresma é condenado à morte. Preocupado com sua situação, Ricardo busca auxílio nas repartições e com amigos do próprio Quaresma, que nada fazem, pois temem por seus empregos. Mesmo contrariando a vontade e ambição do marido, sua afilhada, Olga, tenta ajudá-lo, buscando o apoio de Floriano, mas nada consegue. A morte será o triste fim de Policarpo Quaresma. URUPÊS Monteiro Lobato Urupês é basicamente uma série de 14 contos, tendo como ênfase a vida quotidiana e mundana do caboclo, através de seus costumes, crenças e tradições. Os faroleiros Dois homens conversam sobre faróis, e um deles conta sobre a tragédia do Farol dos Albatrozes, onde passou um tempo com um dos personagens da trama: Gerebita. Gerebita tinha um companheiro, chamado Cabrea, que ele alegava ser louco. Numa noite, travou-se uma briga entre Gerebita e Cabrea, vindo este a morrer. Seu corpo foi jogado ao mar e engolido pelas ondas. Gerebita alegava ter sido atacado pelos desvarios de Cabrea, agindo em legítima pessoa. Eduardo, o narrador, descobre mais tarde que o motivo de tal tragédia era uma mulher chamada Maria Rita, que Cabrea roubara de Gerebita. O engraçado arrependido Um sujeito chamado Pontes, com fama de ser uma grande comediante e sarrista, resolve se tornar um homem sério. As pessoas, pensando se tratar de mais uma piada do rapaz negavam-lhe emprego. Pontes recorre a um primo de influência no governo, que lhe promete o posto da coletoria federal, já que o titular, major Bentes, estava com sérios problemas cardíacos e não duraria muito tempo. A solução era matar o homem mais rápido, e com aquilo que Pontes fazia de melhor: contar piadas. Aproxima-se do major e, após várias tentativas, consegue o intento. Morte, porém inútil: Pontes se esquece de avisar o primo da morte, e o governo escolhe outra pessoa para o cargo. A colcha de retalhos Um sujeito (o narrador) vai até o sítio de um homem chamado Zé Alvorada para contratar seus serviços. Zé está fora e, enquanto não chega, o narrador trata com a mulher (Sinhá Ana), sua filha de quatorze anos (Pingo d'Água) e a figura singela da avó, Sinhá Joaquina, no auge dos seus setenta anos. Joaquina passava a vida a fazer uma colcha de retalhos com pedacinhos de tecido de cada vestido que Pingo d'Água vestia desde pequenina. O último pedaço haveria de ser o vestido de noiva. Passado dois anos, o narrador fica sabendo da morte de Sinhá Ana e a fuga de Pingo d'Água com um homem. Volta até aquela casa e encontra a velha, tristonha, com a inútil concha de retalhos na mão. Em pouco tempo morreria... A vingança da peroba Sentindo inveja da prosperidade dos vizinhos, João Nunes resolve deixar de lado sua preguiça e construir um monjolo (engenho de milho). Contrata um deficiente, Teixeirinha, para fazer a tal obra. Em falta de madeira boa para a construção, a solução é cortar a bela e frondosa peroba na divisa das suas terras (o que causa uma tremenda encrenca com os vizinhos). Teixeirinha, enquanto trabalha, conta a João Nunes sobre a vingança dos espíritos das árvores contra os homens que as cortam. Coincidência ou não, o monjolo não funciona direito (para a gozação dos vizinhos) e João Nunes perde um filho, esmagado pela engenhoca. Um suplício moderno Ajudando o coronel Fidencio a ganhar a eleição em Itaoca, Izé Biriba recebe o cargo de estafeta (entregador de correspondências e outras cargas). Obrigado a andar sete léguas todos os dias, Biriba perde aos poucos a saúde. Resolve pedir demissão, o que lhe é negada. Sabendo da próxima eleição, continua no cargo com a intenção de vingança. Encarregado de levar um "papel" que garantiria novamente a vitória de seu coronel, deixa de cumprir a missão. Coronel Fidencio perde a eleição e a saúde, enquanto o coronel eleito resolve manter Biriba no cargo. Este, então, vai embora durante a noite... Meu conto de Maupassant: Dois homens conversam num trem. Um deles é ex-delegado e conta sobre a morte de uma velha. O primeiro suspeito era um italiano, dono de venda, que é preso. Solto por falta de provas, via morar em São Paulo. Passado algum tempo, novas provas incriminam o mesmo e, preso em São Paulo e conduzido de trem ao vilarejo, se joga da janela. Morte instantânea e inútil: tempo depois, o filho da velha confessa o crime. "Pollice Verso" O filho do coronel Inácio da Gama, o Inacinho, forma-se em Medicina no Rio de Janeiro e volta para exercer a profissão. Pensando em arrecadar dinheiro para ir a Paris reencontrar a namorada francesa, Inacinho começa a cuidar de um coronel rico. Como a conta seria mais alta se o velho morresse, a morte não tarda a acontecer. O caso vai parar na justiça, onde dois outros médicos velhacos dão razão a Inacinho. O moço vai para Paris morar em Paris com a namorada, levando uma vida boêmia. No Brasil, o orgulhoso coronel Inácio da Gama fala aos ventos sobre o filho que andava aprofundando os estudos com os melhores médicos da Europa. Bucolica Andando pelos pequenos vilarejos e sítios interioranos, o narrador fica sabendo da trágica história da morte da filha de Pedro Suã, que morreu de sede. Aleijada e odiada pela mãe, a filha adoeceu e, ardendo em febre numa noite, gritava por água. A mãe não lhe atendeu, e a filha foi encontrada morta na cozinha, perto do pote de água, para onde se arrastou. O mata-pau Dois homens conversam na mata sobre uma planta chamada mata-pau, que cresce e mata todas as outras árvores ao seu redor. O assunto termina no trágico caso de um próspero casal, Elesbão e Rosinha, que encontram um bebê em suas terras e resolvem adotá-lo. Crescido o menino, se envolve com a mãe e mata o pai. Com os negócios paternos em ruína, resolve vendê-los, o que vai contra os gostos da mãe-esposa. Esta quase acaba vítima do rapaz e vai parar num hospital, enlouquecida. Bocatorta Na fazenda do Atoleiro, vivia a família do major Zé Lucas. Nas matas da fazenda, havia um negro com a cara defeituosa com fama de monstro: Bocatorta. Cristina, filha do major, morre justamente alguns dias depois de ter ido com o pai ver a tal criatura. Seu noivo, Eduardo, não agüenta a tristeza e vai até o cemitério chorar a morte da amada. Encontra Bocatorta desenterrando a moça. Volta correndo e, junto a um grupo de homens da fazenda, sai em perseguição a Bocatorta. Esse, em fuga, morre ao passar num atoleiro, depois de ter dado o seu único beijo na vida. O comprador de fazendas Pensando em se livrar logo da fazenda Espigão (verdadeira ruína para quem a possui), Moreira recebe com entusiasmo um bem-apessoado comprador: Pedro Trancoso. O rapaz se encanta com a fazenda e com a filha de Moreira e, prometendo voltar na semana seguinte para fechar o negócio, nunca mais dá notícias. Moreira vem a descobrir mais tarde que Pedro Trancoso é um tremendo safado, sem dinheiro nem para comprar pão. Pedro, no entanto, ganha na loteria e resolve comprar mesmo a fazenda, mas é expulso por Moreira, que perdeu assim a única chance que teve na vida de se livrar das dívidas. O estigma Bruno resolve visitar o amigo Fausto em sua fazenda. Lá conhece a bela menina Laura, prima órfã de Fausto, e sua fria esposa. Fausto convivia com o tormento de um casamento concebido por interesse e uma forte paixão pela prima. Passado vinte anos, os amigos se reencontram no Rio de Janeiro, onde Bruno fica sabendo da tragédia que envolveu as duas mulheres da vida de Fausto: Laura sumiu durante um passeio, e foi encontrada morta com um revólver ao lado da mão direita. Suicídio misterioso e inexplicável. A fria esposa de Fausto estava grávida e deu a luz a um menino que tinha um sinalzinho semelhante ao ferimento de bala no corpo da menina. Fausto vê o sinalzinho e percebe tudo: a mulher havia matado Laura. Mostra o sinal do recém-nascido para ela que, horrorizada, padece até a morte. Velha Praga Artigo onde Monteiro Lobato denuncia as queimadas da Serra da Mantiqueira por caboclos nômades, além de descrever e denunciar a vida dos mesmos. Urupês A jóia do livro. Aqui, Monteiro Lobato personifica a figura do caboclo, criando o famoso personagem Jeca Tatu, apelidado de urupê (uma espécie de fungo parasita). Vive "e vegeta de cócoras", à base da lei do menor esforço, alimentando-se e curando-se daquilo que a natureza lhe dá, alheio a tudo o que se passa no mundo, menos do ato de votar. Representa a ignorância e o atraso do homem do campo.